ATIVIDADE 19 – O tráfico de escravizados - 05/11/2021

TRÁFICO DE ESCRAVOS – MERCADORIA HUMANA ATRAVESSA O ATLÂNTICO

A expansão marítima e comercial europeia, a partir do século XV, mudou drasticamente a história da humanidade ao unir três continentes: a Europa, a África e a América.

Em busca de enriquecimento, os europeus (os portugueses foram pioneiros), organizaram todo um aparato político, econômico e militar que lhes garantiu o controle sobre africanos e americanos. Dessa forma surgiu o que chamamos de sistema colonial, que durou do século XVI ao século XIX.

Apesar de não podermos falar de uma colonização da África nesse período com exceção de algumas ilhas), os portugueses fundaram diversos fortes e feitorias no litoral atlântico africano, e assim puderam negociar com os povos locais diversas mercadorias que eram levadas para a Europa, para a América e, também, para a Ásia.

 Dentre todos os bens negociados com os povos africanos, o comércio de escravos foi o que mais rendeu lucros para Portugal, pois além do ótimo negócio que representava, também foi fundamental para a ocupação e exploração da América.

O tráfico escravista

Depois que alcançaram o litoral atlântico da África, ainda na primeira metade do século XV, rapidamente os portugueses conseguiram ter acesso ao comércio de seres humanos que já era praticado pelos africanos. O trato (ou seja, a negociação) entre portugueses e africanos era feito através do escambo (troca). Os produtos oferecidos pelos portugueses interessavam aos africanos: tecidos, vinhos, cavalos, ferro (que era derretido e transformado em armas na África).

Com essas mercadorias em mãos, os aliados dos portugueses conseguiam status social e, também, tinham maiores condições de enfrentar povos inimigos e, assim, podiam obter mais escravos para serem negociados com os portugueses. Poucas foram as iniciativas dos portugueses em colonizar a África, já que saciavam seus interesses mercantis mantendo uma relação amigável com povos do litoral.

As regiões que mais forneceram escravos para o tráfico atlântico foram: o Cabo da Guiné, chamado pelos portugueses de Costa dos Escravos, e os Reinos do Congo e de Angola (nesse reino os portugueses conseguiram fundar fortes no interior, chamados de presídios). As guerras entre os africanos para conseguir mais escravos acabaram causando a diminuição da população do litoral, e a busca por escravos passou a ser feita em regiões cada vez mais distantes.

No interior da África, os escravos capturados eram obrigados a andar por quilômetros, às vezes, por dias seguidos, vigiados de perto por homens armados. Nessas caravanas de escravos o sofrimento era muito grande: obrigados a andar em fila, atados uns aos outros pelo limbambo (correntes, ou madeiras, ou ferros que uniam os escravos pelo pescoço), com os pés sangrando, não recebiam alimentação suficiente e eram obrigados a carregar pesos. Tudo isso para aumentar o cansaço e diminuir as chances de rebelião e de fuga. Muitos desses prisioneiros morriam nessa travessia.

Podia demorar meses esse processo de comercialização que ia do momento da captura dos escravos, passando pela negociação de feira em feira no interior e a chegada nos portos de trato negreiro no oceano Atlântico, onde ficavam os navios estrangeiros.

Disponível em: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTVeHJg4zPI6bkc-F6ncJWwcMRFfyKFVC1RFQ&usqp=CAU Acesso em 22 de out. de 2021.

Os portos de trato negreiro

Não só os portugueses fizeram fortunas negociando gente na África. Navios ingleses, franceses, holandeses e brasileiros atracavam nos portos africanos e esperavam pela sua carga humana. Nesses portos os escravos eram mantidos em barracões pelos comerciantes locais (tanto africanos quanto europeus que moravam na região), e ali esperavam pela negociação. Quanto mais rápidas as transações, melhor para o prisioneiro, já que as condições de higiene e alimentação nesses barracões eram as piores possíveis.

As inúmeras caravanas de escravos chegavam de diversas regiões, trazendo prisioneiros das mais diferentes etnias, que, devido aos maus tratos, sofriam com uma infinidade de doenças: varíola, disenteria, sarna. Todos presos num mesmo barracão, sofrendo o mesmo terror: para onde seriam levados? Muitos dos prisioneiros nunca tinham visto o mar, muito menos um europeu. Também interessava aos traficantes de escravos que a negociação fosse rápida.

Os navios tinham que pagar para esperar no porto. Pagavam também pelo reabastecimento de água e alimento. Muitas vezes tinham que enviar presentes para os chefes locais, a fim de garantir proteção e exclusividade nos negócios. Além disso, a pirataria era comum no litoral da África. Mas, às vezes, demorava mais de 5 meses para que todos os acordos fossem firmados e até mesmo para que os prisioneiros fossem embarcados, já que os comerciantes dos navios só aceitavam os escravos em seus porões quando já tivessem o número total que desejavam, pois assim evitavam ter que cuidar dos seus cativos e porque temiam as rebeliões a bordo.

A travessia no Atlântico

Os navios que negociavam e transportavam escravos eram chamados de navios negreiros ou navios tumbeiros, nome que é derivado de “tumba”, devido à quantidade de escravos que morriam em seus porões. Calcula-se que 20% dos escravos africanos embarcados nos tumbeiros morriam durante a travessia pelo oceano Atlântico.

O tumbeiro poderia ser uma nau, um bergantim, uma corveta, dependendo do desenvolvimento tecnológico da época (o tráfico atlântico de escravos durou quatro séculos e durante esse tempo as técnicas de navegação mudaram muito).

Os escravos eram transportados em navios conhecidos como tumbeiros.

Em geral essas embarcações transportavam entre 400 e 500 escravos, todos confinados num porão. Os negreiros (comerciantes de escravos) compravam escravos a mais do que sua embarcação comportava, pois sabiam que perderiam muitas das suas “mercadorias” durante a viagem, e assim superlotavam suas embarcações. Uma viagem entre Angola e Brasil durava 35 dias.

E entre Moçambique e Brasil demorava em torno de três meses. Os alimentos e a água potável transportada por esses navios eram insuficientes até mesmo para a tripulação (trabalhadores do navio), pois não existia nenhuma forma de refrigeração.

Os escravos, confinados na parte mais insalubre do navio, passavam por situações das mais terríveis. Não sabiam onde estavam, ficavam apertados num espaço no qual não podiam ficar em pé ou se deitar, recebiam pouca alimentação com baixo grau de nutrientes (basicamente: feijão, farinha de mandioca e carne seca). Mal recebiam água para beber. E, enquanto isso, pelas frestas da embarcação feita de madeira, a água do mar ia aos poucos invadindo o chão do porão.

Famintos, fracos e doentes, os escravos não tinham mais nada em que acreditar. O desespero era tanto, que alguns dos cativos aceitavam vigiar e punir seus companheiros de sofrimento em troca de um pouco mais de água. Os rebeldes eram, normalmente, envenenados. Os mortos eram atirados ao mar.

          Nessa situação de tamanha infelicidade, pessoas que nunca tinham se visto antes, que nem sequer falavam a mesma língua, se ajudavam. Repartiam a pouca comida. Consolavam-se. Essa amizade, essa solidariedade que surgia nos tumbeiros era chamada de malungo, ou seja, amizade de travessia, que algumas vezes se perpetuava para a vida toda.

São comuns os relatos sobre a enorme felicidade dos escravos ao aportarem no Brasil, o que era interpretado na época como se os africanos estivessem alegres por se libertarem da vida pagã africana ao chegar ao mundo cristão americano. Esse foi um dos argumentos mais eficientes para legitimar a comercialização de gente na época.

Disponível em: https://escolakids.uol.com.br/historia/trafico-negreiro.htm Acesso em 22 de out. de 2021.

Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/trafico-de-escravos-mercadoria-humana-atravessa-o-atlantico.htm Acesso em: 20 de out. de 2021.

A resistência dos escravos

Muitos escravos não aceitavam a vida que lhes era imposta e resistiam de diversas formas: suicidavam-se, não cumpriam as ordens que recebiam, assassinavam seus senhores, fugiam, rebelavam-se. Alguns africanos sofriam uma depressão profunda, chamada de banzo, o que podia levar à morte por inanição. Os senhores de escravos tinham horror a qualquer tipo de resistência, pois além de temerem por suas vidas, temiam perder todo o dinheiro investido na compra do seu escravo. Muitos escravos fugitivos se organizaram em quilombos.

Na África, o kilombo era um acampamento militar dos jagas (guerreiros imbangala), e aqui no Brasil se tornou uma comunidade que se que se organizava para resistir à sociedade escravista. O mais famoso quilombo foi o dos Palmares, fundado na Serra da Barriga, na então capitania de Pernambuco (hoje Alagoas), no século 17, mas existiram centenas de quilombos por todo território brasileiro. Na província de São Paulo, por exemplo, um dos maiores quilombos foi o do Jabaquara, fundado no século 19 na serra de Cubatão.

Alguns escravos fugiam por um tempo, mas retornavam ao seu senhor em troca de melhores condições de vida. Havia também escravos que fugiam e tentavam a sorte em outra região, dizendo ser um liberto. Outra forma de resistência era o assassinato do senhor ou de funcionários, como o feitor, por exemplo.

Durante os quatro séculos em que a escravidão existiu no Brasil, muitas rebeliões ocorreram, mas pouco se conhece sobre elas, já que nessa época as autoridades máximas eram os próprios senhores de escravos, e poucos deles registraram esses episódios. A rebelião de escravos que mais teve repercussões foi a Revolta dos Malês, em 1835 na Bahia.

Os africanos resistiram e se impuseram de diversas formas, legando-nos, por exemplo, palavras do nosso vocabulário, pratos de nossa culinária, festas populares, crenças religiosas, instrumentos musicais. A transmissão de seus valores culturais talvez seja a mais importante forma de resistência dos africanos, que não se renderam aos padrões que lhes foram impostos. Os africanos e seus descendentes participaram da construção do Brasil e do povo brasileiro, e não podemos pensar a nossa cultura sem entender (e reverenciar) a nossa herança africana.

Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/escravismo-no-brasil-a-resistencia-de-africanos-e-descendentes.htm?cmpid=copiaecola Acesso em: 20 de out. de 2021.

ATIVIDADES

1.De acordo com o texto, qual foi o país pioneiro em comercializar pessoas escravizadas do continente africano e quais foram as condições pré-estabelecidas que oportunizou esse pioneirismo?

2. Depois que alcançaram o litoral atlântico da África, ainda na primeira metade do século XV, rapidamente os portugueses conseguiram ter acesso ao comércio de seres humanos que já era praticado pelos africanos. Como se dava os mecanismos e as dinâmicas de comércio de escravizados entre portugueses e africanos?

3.O processo de comercialização das pessoas escravizadas do momento da captura dos escravos, passando pela negociação de feira em feira no interior até a chegada nos portos negreiro, no oceano Atlântico, onde ficavam os navios estrangeiros demoravam meses. Descreva como era a condição de vida das pessoas escravizadas neste processo.

4. Sobre o comercio de escravizados na África na primeira metade do século XV, assinale (V) para as alternativas verdadeiras e (F) para as falsas.

a) (  ) As regiões que mais forneceram escravos para o tráfico atlântico foram: o Cabo da Guiné, chamado pelos portugueses de Costa dos Escravos.

b) (  ) As guerras entre os portugueses e africanos para conseguir mais escravos acabaram causando a diminuição da população do litoral africano.

c) (   ) Somente os portugueses, fizeram fortunas negociando gente na África.

d) (   ) Dentre todos os bens negociados com os povos africanos, o comércio de escravos foi o que mais rendeu lucros para Portugal.

5. Observe no mapa as principais rotas do tráfico e responda aos questionamentos a seguir.

a) De qual região da África eram as pessoas escravizadas que eram levadas para a América do Norte?

b) De qual região da África eram as pessoas escravizadas que vieram para o Brasil?

c) As pessoas escravizadas de Cabo Verde eram levadas para onde?

d) Todos as pessoas escravizadas mais ao litoral da África eram enviadas geralmente para as Américas, e as mais do interior?

Disponível em: https://3.bp.blogspot.com/-rOSfkvURhZY/V1HqvhQ9rPI/AAAAAAAADn8/3RQXcwbNId8iAbDbQMZA5zOfbor7xpxlgCLcB/s1600/rodas_traficonegreiro.jpg Acesso em 20 de out. de 2021.

6. Quando as pessoas escravizadas chegavam aos barracões dos portos, e quanto mais rápidas as transações, melhor para o prisioneiro. Por quê?

 Imagem disponível em: https://pt-static.z-dn.net/files/d64/f8f678b1ec14c485c05ad8909909a5d8.jpg Acesso em 20 de out. de 2021.

7. Os navios que negociavam e transportavam escravos eram chamados de navios negreiros ou navios tumbeiros. De acordo com e o texto e a imagem a seguir descreva com suas palavras como eram as condições de vidas das pessoas escravizadas no interior dos navios na travessia do oceano Atlântico?

Imagem disponível em: https://i.pinimg.com/236x/5b/7f/1e/5b7f1e795be713c83e1423b99e7982e8–american-history-brasil-imperial.jpg Acesso em 20 de out. de 2021.

8. São comuns os relatos sobre a enorme felicidade das pessoas escravizadas ao aportarem no Brasil, o que era interpretado na época como se os africanos estivessem alegres por se libertarem da vida pagã africana ao chegar ao mundo cristão americano. Esse foi um dos principais argumentos para legitimar a comercialização de pessoas na época. No entanto, muitas pessoas escravizadas não aceitavam a vida que lhes era imposta e resistiam de diversas formas. Quais eram as principais resistências?

9. Como se chamava a comunidade que se organizava para resistir a sociedade escravista?

10. A transmissão dos valores culturais dos africanos talvez seja a mais importante forma de resistência dos africanos, que não se renderam aos padrões que lhes foram impostos. Os africanos e seus descendentes participaram da construção do Brasil e do povo brasileiro, e não podemos pensar a nossa cultura sem entender (e reverenciar) a nossa herança africana. As resistências africanas aconteceram de diversas formas. Pesquise na internet ou em livros didáticos os principais legados da cultura africana e preencha o quadro a seguir com esses legados em suas respectivas áreas.

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