AULA 09/2022 – Crônicas - 02/05/2022

Crônica

O que é crônica? É um gênero textual muito presente em jornais, revistas, portais de internet e blogs. Esse tipo de texto se destaca por abordar aspectos do cotidiano, ou seja, questões comuns do nosso dia a dia.

Quais as características da crônica?

Além da narração de situações banais, ela é caracterizada por:

– Textos curtos e de fácil compreensão

– Linguagem simples e descontraída

– Poucos (ou nenhum) personagens nas histórias

– Análise crítica sobre contextos e circunstâncias 

– Humor crítico, irônico e sarcástico

– Linha cronológica estabelecida.

Para que serve uma crônica?

Embora as crônicas retratem acontecimentos do dia a dia, elas não têm a finalidade exclusiva de informar. Seu objetivo é, na verdade, provocar uma reflexão sobre o assunto abordado. Os cronistas costumam identificar aspectos que, muitas vezes, passam despercebidos pelo restante da sociedade, mas que merecem observação e análise.

Quais são os tipos de crônicas?

crônica é um gênero textual que pode ser dividido em diferentes tipos, conheça as características de cada um deles:

  • Crônica descritiva – é tipificada pela descrição dos elementos na narrativa. Ou seja, é um texto que expõe os detalhes de objetos, lugares, personagens e demais partes.
  • Crônica narrativa – Esse tipo de crônica é marcado pela narração em primeira ou terceira pessoa do singular. Ele costuma conter humor, ação e crítica.
  • Crônica dissertativa – pode ser escrita em primeira ou terceira pessoa do plural. Ela traz à tona o ponto de vista do autor sobre o assunto em foco.
  • Crônica humorística – Humor, ironia e sarcasmo são os componentes da crônica humorística.

Diferentes abordagens e estratégias podem ser adotadas nesse tipo de texto para tratar dos temas que impactam a sociedade de forma cômica.

  • Crônica lírica – No gênero lírico, a expressão de emoções é predominante. A crônica lírica, portanto, evidencia o sentimentalismo.
  • Crônica poética – esta utiliza versos poéticos em sua composição. Dessa forma, além de traços de poesia, também contém sentimentos e emoções.
  • Crônica narrativo-descritiva – Esse tipo de crônica combina a narrativa e a descritiva.
  • Crônica jornalística – tem um viés do texto jornalístico no que diz respeito à veiculação de notícias e fatos. Dessa forma, busca abordar acontecimentos atuais, do mesmo dia ou semana, por exemplo.
  • Crônica histórica – Ao contrário da crônica jornalística, que destaca eventos recentes, a crônica histórica relembra episódios passados.

[…] Entre outras

Disponível em: https://ead.pucpr.br/blog/o-que-e-cronica Acesso: 10, abr. 2022.

Disponível em: https://www.uai.com.br/app/noticia/pensar/2013/10/12/noticias-pensar,147347/fernando-sabino-marcou-encontro-definitivo-com-a-literatura-brasileira.shtml Acesso em: 10 de abr. 2022.

O segredo

       […]

Estava empenhado nisso, quando senti que havia alguém em pé atrás de mim. Uma voz de homem, que soou familiar aos meus ouvidos, perguntou:

– Que é que você está fazendo?  Sem me voltar, tão entretido estava com as formigas, expliquei o que se passava.

Logo consegui restabelecer o tráfego delas, recompondo a fila através da ponte. O homem se agachou a meu lado, dizendo que várias formigas seguiam por um caminho, uma na frente de duas, uma atrás de duas, uma no meio de duas. E perguntou:

– Quantas formigas eram?

Pensei um pouco, fazendo cálculos. Naquele tempo, eu achava que era bom em aritmética: uma na frente de duas faziam três; uma atrás de duas eram mais três; uma no meio de duas, mais três.

– Nove! Exclamei, triunfante.

Ele começou a rir e sacudiu a cabeça, dizendo que não: eram apenas três, pois formiga só anda em fila, uma atrás da outra. 

Então perguntei a ele o que é que cai em pé e corre deitado.

  – Cobra? – ele arriscou, enrugando a testa, intrigado. 

Foi a minha vez de achar graça:

– Que cobra que nada! É a chuva – e comecei a rir também.

– Você sabe o que é que caindo no chão não quebra e caindo n’água quebra?

– Sei: papel.

Gostei daquele homem: ele sabia uma porção de coisas que eu também sabia. Ficamos conversando um tempão, sentados na beirada da caixa de areia, como dois amigos, embora ele fosse cinquenta anos mais velho do que eu, segundo me disse. Não parecia. Eu também lhe contei uma porção de coisas. Falei na minha galinha Fernanda, nos milagres que um dia andei fazendo, e de como aprendi a voar como os pássaros, e a minha ventura de escoteiro perdido na selva, as espionagens e investigações da sociedade secreta Olho de Gato, o sósia que retirei do espelho, o Birica, valentão da minha escola, o dia em que me sagrei campeão de futebol, o meu primeiro amor, o capitão Patifaria, a passarinhada que Mariana e eu soltamos. Pena que minha amiga não estivesse por ali, para que ele a conhecesse. Levei-o a ver o Godofredo em seu poleiro:

– Fernando! – berrou o papagaio, imitando mamãe: – Vem pra dentro, menino! Olha o sereno!

– Hindemburgo apareceu correndo, a agitar o rabo. Para surpresa minha, nem o homem ficou com medo do cachorrão, nem este o estranhou; parecia feliz, até lambeu-lhe a mão. Depois mostrei-lhe o Pastoff no fundo do quintal, mas o coelho não queria saber de nós, ocupado em roer uma folha de couve.

O homem me disse que tinha de ir embora – antes queria me ensinar uma coisa muito importante:

– Você quer conhecer o segredo de ser um menino feliz para o resto da sua vida?

– Quero – respondi.

O segredo se resumia em três palavras, que ele pronunciou com intensidade, mãos nos meus ombros e olhos nos meus olhos:

– Pense nos outros.

Na hora achei esse segredo meio sem graça. Só bem mais tarde vim a entender o conselho que tantas vezes na vida deixei de cumprir. Mas que sempre deu certo quando me lembrei de segui-lo, fazendo-me feliz como um menino.

O homem se curvou para me beijar na testa, se despedindo:

– Quem é você? – perguntei ainda.

Ele se limitou a sorrir, depois disse adeus com um aceno e foi-se embora para sempre. 

Disponível em: SABINO, Fernando, O Menino no espelho. São Paulo, Record, 1984. p. 15-18.

Fonte: Português – Linguagem & Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 64-7. Acesso em 10 de abr. de 2022.

Atividades

  1. Quem são as personagens do texto? Descreva cada uma delas.

2. Nem todas as características das personagens são claramente apontadas pelo autor: algumas são percebidas pelo leitor por meio de inferências que o texto sugere. A partir dos trechos abaixo, que inferência poderíamos fazer:

a) Sobre o garoto, em “Sem me voltar, tão entretido estava com as formigas, expliquei o que se passava. Logo consegui restabelecer o tráfego delas, recompondo a fila através da ponte”?

b) Sobre o adulto em “Ficamos conversando um tempão, sentados na beirada da caixa de areia […] lhe contei uma porção de coisas […] tinha de ir embora – antes queria me ensinar uma coisa muito importante”?

3. O menino revela simpatia pelo estranho, por reconhecer semelhanças entre eles. Indique o trecho em que isso ocorre.

4. Que segredos sobre sua própria vida o menino revela ao estranho?

5. Dessa série de acontecimentos que o menino conta ao estranho, todos lhe parecem verdadeiros? Faça um comentário a respeito.

6. Quando o menino entendeu o conselho do homem? Por quê?

7. Por que o menino deixou de seguir o conselho que o homem lhe dera?

Elementos Coesivos

Os elementos de coesão são aqueles os que ligam as frases ou palavras dentro de um texto. Podemos dizer que tais elementos são responsáveis pela organização das ideias no plano da linguagem textual. É o uso correto desses conectivos que dará ao texto a consistência necessária para a compreensão, isto é, para que o texto comunique alguma coisa.

Dentre esses elementos, citemos os pronomes relativos e as conjunções. Muitos professores aconselham, inclusive, que os alunos – além de compreenderem a “lógica” por trás de cada um – memorizem pelo menos uma parte desses elementos.

Com relação às conjunções, temos as coordenativas, que são:

  • Adição: e, nem, mas também.

Ex.: “Ele começou a rir e sacudiu a cabeça.”

  • Adversidade (oposição): entretanto, mas, porém, contudo, todavia.

Ex.: “Depois mostrei-lhe o Pastoff no fundo do quintal, mas o coelho não queria saber de nós…”

  • Alternância: ora… ora, ou… ou, seja… seja, quer… quer.

Ex.: Camila ora estuda, ora brinca.

  • Conclusão: Portanto, pois (após o verbo), logo.

Ex.: Penso, logo existo!

  • Explicação: Porque, que, pois (antes do verbo).

Ex.: “…eram apenas três, pois formiga só anda em fila.”

Já as conjunções subordinativas são:

  • Causa: Já que, visto que, como, porque.

Ex.: Já que faltou a aula, terá que copiar a matéria de um colega.

  • Comparação: Assim como, mais… que, menos… que, tão/tanto… como.

Ex.: Beatriz é mais esperta do que sua prima.

  • Concessão: ainda que, mesmo que, conquanto, embora.

Ex.: “Ficamos conversando um tempão, como dois amigos, embora ele fosse cinquenta anos mais velho.”

  • Condição: Caso, desde que, a menos que, se, a não que.

Ex.: Desde que voltou, está mais esperta.

  • Conformidade: como, segundo, conforme.

Ex.: Fizeram tudo conforme o combinado.

  • Consequência: de modo que, tão/tanto… que.

Ex.: Comeu tanto, que teve distúrbio intestinal.

  • Finalidade: a fim de que, para que.

Ex.: “Pena que minha amiga não estivesse por ali, para que ele a conhecesse.”

  • Proporcionalidade: à proporção que, à medida que.

Ex.: À medida que crescia, ficava mais bonita.

  • Tempo: logo que, mal, enquanto, assim que, quando.

Ex.: “Naquele tempo, eu achava que era bom em aritmética…”

Os pronomes relativos, por sua vez, são estes, principalmente:

  • Que: usado em relação a coisas ou pessoas.

Ex.: “…vim a entender o conselho que tantas vezes na vida deixei de cumprir.”

  • Quem: refere-se apenas a pessoas e sempre vem preposicionado.

Ex.: Esta é a garota a quem ele amava.

  • Cujo: indica posse, vem entre dois substantivos e concorda com o mesmo.

Ex.: Este é o escritor cuja obra eu li.

  • Onde: equivale a em que ou no qual, é empregado para indicar local.

Ex.: Onde eu estou morando é muito bonito.

  • Quanto: vem precedido de um pronome indefinido: tudo, tanta, todo, todas.

Ex.: Tenho tudo quanto preciso.

  • Quando: é um pronome relativo quando o antecedente dá ideia de tempo.

Ex.: Em janeiro, quando eu estava na casa da minha avó, eu cai da árvore.

As palavras “que” e “se”, além de serem conjunções e pronomes também tem outras funções. Fique atento! A palavra “que” pode ser: conjunção, substantivo, preposição, partícula expletiva ou de realce, advérbio, pronome, interjeição.

A palavra “se” pode ser: parte integrante do verbo, conjunção, partícula expletiva ou de realce, partícula apassivadora, pronome reflexivo, índice de indeterminação do sujeito.

Disponível em: https://www.concursosnobrasil.com.br/escola/portugues/elementos-de-coesao.html#:~:text=Podemos%20dizer%20que%20tais%20elementos,o%20texto%20comunique%20alguma%20coisa. Acesso em: 10 de abr. 2022.

Texto 1

Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito, dois vocábulos virais: o italiano influenza e o francês grippe. O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos astros sobre os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado. 

RODRIGUES. S. Sobre palavras. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.

8. Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:

( ) “[…] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”

( ) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe […]”.

( ) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava ‘influência dos astros sobre os homens’.”

( ) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo infectado.”

Texto II

Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente importante para diminuir o risco de infarto, mas também de problemas como morte súbita e derrame. Significa que manter uma alimentação saudável e praticar atividade física regularmente já reduz, por si só, as chances de desenvolver vários problemas. Além disso, é importante para o controle da pressão arterial, dos níveis de colesterol e de glicose no sangue. Também ajuda a diminuir o estresse e aumentar a capacidade física, fatores que, somados, reduzem as chances de infarto. Exercitar-se, nesses casos, com acompanhamento médico e moderação, é altamente recomendável.

ATALIA, M. Nossa vida. Época. 23 mar. 2009.

9. As ideias veiculadas no texto se organizam estabelecendo relações que atuam na construção do sentido. A esse respeito, identifica-se, no fragmento, que

( ) a expressão “Além disso” marca uma sequenciação de ideias.

( ) o conectivo “mas também” inicia oração que exprime ideia de contraste.

( ) o termo “como”, em “como morte súbita e derrame”, introduz uma generalização.

( ) o termo “Também” exprime uma justificativa.

10. A partir da crônica “O Segredo” de Fernando Sabino, destaque e conceitue os elementos coesivos das orações a seguir:

( ) “Estava empenhado nisso, quando senti que havia alguém em pé atrás de mim.”

( ) “Uma voz de homem, que soou familiar aos meus ouvidos, perguntou:…”

( ) “Ele começou a rir e sacudiu a cabeça…”

( ) “Para surpresa minha, nem o homem ficou com medo do cachorrão…”

Proposta de Produção de Texto

A produção de crônicas pode ser muito interessante para dar espaço ao olhar do aluno, ou seja, para ir além das descrições literais, das sequências de eventos etc. Esse gênero exige um exercício de encarar a subjetividade e autoria de cada um, por isso há muito espaço para as sensações, as emoções e as reflexões.

A partir da imagem e da legenda a seguir, elabore uma crônica. Imagine que seu texto será publicado no mesmo site onde a imagem foi veiculada. Nesta crônica, você deverá: 

a) Posicione-se em relação à imagem. Você é a pessoa na foto? É uma pessoa que observa a cena ao vivo? Um leitor do site que leu a notícia?

b) Narre e descreva a cena, uma pessoa que não viu a imagem deve conseguir compreender/ “visualizar” a cena.

c) Compartilhe os sentimentos e as reflexões levantadas a partir da imagem e de sua legenda. Por exemplo, como essa pessoa foi parar ali? O que ela está vivendo e sentindo? O que o espectador sente ao observá-la?

d) Formule um desfecho para o seu texto. Formulações como “tudo não passou de um sonho” não serão aceitas.