AULA 10/2023 – Conto popular, verbos e variações linguísticas. - 26/05/2023

O QUE SÃO CONTOS POPULARES?

Vamos resgatar um pouquinho sobre esse gênero textual da oralidade. Na língua portuguesa, a expressão contos populares é sinônima de contos folclóricos e também de contos tradicionais, vindo indicarem um conjunto de histórias mais ou menos curtas com personagens humanos ou humanizados, com fantasia, magia, humor, ensinamentos práticos, morais, a depender do jeito como são habituais ou habilmente narradas.

Disponível em https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2019/03/contar-historias.jpg

Em geral costumamos aceitar que o conto popular advém de geração em geração e prende-se a uma ideia, às vezes, nebulosa de literatura oral, chegando até nós peneirados por milhares e milhares de anos. Porém, será que é simplesmente assim? Um só parágrafo basta para definir uma ou outra narrativa como um conto popular?

Câmara Cascudo, no importante Dicionário do Folclore Brasileiro, dedica várias colunas ao tema. O estudioso potiguar destaca as marcas do conto popular ligado ao campo intelectual e afetivo da oralidade, ou seja, pela variedade de modos como as histórias são contadas via palavra falada, a entonação, a mímica corporal, os processos de adaptação a diferentes épocas, lugares, a participação nem sempre discreta dos ouvintes no momento da narração, dado que as reações das pessoas frente a um contador também modificam o texto que está sendo compartilhado. O contador pode trocar detalhes, nomes, coisas, plantas, animais, figuras e figurantes de um conto, por esquecimento ou a fim de agradar a audiência, suprimindo e acrescentando fatos, emendando episódios, produzindo novos textos a cada vez que enuncia um conto.

     CONTOS POPULARES E SUAS VÁRIAS VERSÕES

Disponível em https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/71vRSygKL8L.jpg Acesso em 09 de maio de 2022.

Todos nós conhecemos algumas versões de Chapeuzinho Vermelho. A duas principais têm desfechos diferentes, revelando significados distintos. Jacob e Wilhelm Grimm ofereceram um final redentor ao conto da menina e da avó devoradas pelo lobo, colocando em ação um caçador típico das regiões montanhosas. Chapeuzinho, após o resgate, sai para buscar umas pedras para metê-las na barriga do animal — e há mais um episódio: o encontro com outro lobo que será enganado, dando ao conto ares de conto de esperteza.

A Linguagem nos Contos Populares

O registro feito enquanto o contador narra na língua falada é anotado por alguém, podendo ocorrer perda de trechos devido as paradas que ocorrem na língua oral. Outras vezes o registro escrito é resgatado a partir da lembrança, da memória, concentrando-se em uma redação fiel a tudo o que se ouviu. No entanto, uma transcrição que se ouve não é a mesma história que depois se divulga de forma literária. Há uma adaptação para o registro escrito da língua, considerando diversos fatores contextuais que serão revisados em variações linguísticas.

Disponível em https://quindim.com.br/blog/o-que-sao-os-contos-populares/ Acesso em 09 de maio de 2022. (adaptado).

Você sabe o que são variações linguísticas?

Variações linguísticas são as variantes da linguagem em relação a diversos fatores: sociais, históricos, regionais, técnicos, situações formais e informais.

Ela existe porque as línguas possuem a característica de serem dinâmicas e sensíveis a fatores como a região geográfica, o sexo, a idade, a classe social do falante e o grau de formalidade do contexto da comunicação.

É importante observar que toda variação linguística é adequada para atender às necessidades comunicativas dos falantes. Assim, quando julgamos errada determinada variedade, estamos emitindo um juízo de valor sobre os seus falantes e, portanto, agindo com preconceito linguístico.

Variedade regional é aquela que demonstra a diferença entre as falas dos habitantes de diferentes estados e cidades. Por exemplo, os falantes de Minas Gerais possuem uma forma diferente em relação à fala dos falantes do Rio de Janeiro. Exemplo: pão francês, pão de sal, pão careca…

A variedade social é a que demonstra as diferentes maneiras de grupos sociais específicos, maneiras de falar: grupos de jovens, aplicativos de conversas e redes sociais, o grupo de futebol, grupo religioso…

A variedade histórica é a que demonstra que algumas palavras ou expressões não são mais utilizadas com o passar do tempo. Como exemplo, temos o uso do “ph” de algumas palavras, como pharmácia (forma antiga), que se tornou farmácia (forma atual) e a diminuição de vossa mercê (forma antiga) — que hoje só vemos em séries e novelas de época — para você (forma atual).

Disponível em https://conhecimentocientifico.r7.com/variacao-linguistica/ Acesso em 09 de maio de 2022.

Linguagem formal usada em situações comunicativas formais, como uma palestra, um congresso, uma reunião empresarial, etc. Uma linguagem que está em acordo com os padrões da Língua.

Linguagem Informal usada em situações comunicativas informais, como reuniões familiares, encontro com amigos, etc. Nesses casos, há o uso da linguagem coloquial

ATIVIDADES

Leia o conto popular da região de Pernambuco e responda às questões 1 a 10.

A cumbuca de ouro e os marimbondos

Havia dois homens, um rico e outro pobre, que gostavam de pregar peças um ao outro. Foi o compadre pobre à casa do rico pedir um pedaço de terra para fazer uma roça. O rico, para fazer peça ao outro, lhe deu a pior terra que tinha. Logo que o pobre teve o sim, foi para a casa dizer à mulher, e foram ambos ver o terreno. Chegando lá nas matas, o marido viu uma cumbuca de ouro, e, como era em terras do compadre rico, o pobre não a quis levar para a casa, e foi dizer ao outro que em suas matas havia aquela riqueza.

Imagem disponível em https://www.baixelivros.com.br/infantil/a-cumbuca-de-ouro Acesso em 09 de maio de 2022.

O rico ficou logo todo agitado, e não quis que o compadre trabalhasse mais nas suas terras. Quando o pobre se retirou, o outro largou-se com a sua mulher para as matas a ver a grande riqueza.

Chegando lá, o que achou foi uma grande casa de marimbondos; meteu-a numa mochila e tomou o caminho do mocambo do pobre, e logo que o avistou foi gritando: “Ó compadre, fecha as portas, e deixa somente uma banda da janela aberta!”

O compadre assim fez, e o rico, chegando perto da janela, atirou a casa de marimbondos dentro da casa do amigo, e gritou: “Fecha a janela, compadre!” Mas os marimbondos bateram no chão, transformaram-se em moedas de ouro, e o pobre chamou a mulher e os filhos para as ajuntar.

O ricaço gritava então: “Ó compadre, abra a porta!” Ao que o outro respondia: “Deixe-me, que os marimbondos estão me matando!” E assim ficou o pobre rico, e o rico ridículo.

Texto disponível em https://armazemdetexto.blogspot.com/2020/11/conto-cumbuca-de-ouro-e-os-marimbondos.html Acesso em 09 de maio de 2022.

1. Quem são as personagens principais desse conto?

2. O texto acima se estrutura a partir das características do conto popular porque

(A) é uma narrativa que apresenta marcas de oralidade na linguagem e estruturada ficcionalmente.

(B) é um texto expositivo, pois apresenta um fato com opiniões das personagens e com linguagem culta.

(C) narra fatos do cotidiano, com uma linguagem clara e com personagens mais próximos dos contos de fadas.

(D) descreve um fato engraçado para entreter e informar à sociedade e o leitor.

3. Qual o conflito que originou a história?

(A) O homem pobre ir pedir um pedaço de terra ao homem rico.

(B) O homem rico dar a pior terra para o compadre pobre.

(C) O homem pobre ter encontrado uma cumbuca de ouro nas terras do compadre rico. 

(D) O homem rico levar a casa de marimbondos na mochila.

4. No trecho: “Havia dois homens, um rico e outro pobre, que gostavam de pregar peças um ao outro” o que significa “pregar peças” nesse contexto?

(A) trabalhar juntos para realizar algo.

(B) discutir bastante sobre um assunto específico.

(C) realizar brincadeiras com pessoas com quem tem mais intimidade.

(D) estudar um assunto de forma superficial e depois escrever.

5. No trecho: “Chegando lá nas matas…”, o verbo “chegar” expressa uma ideia

(A) não concluída, pois se estrutura com o verbo no gerúndio –ndo.

(B) concluída, pois se estrutura com o verbo no particípio –ndo.

(C) espacial, pois indica o lugar aonde a personagem chega.

(D) temporal, pois indica o momento exato de chegada da personagem.

6. No trecho: “O ricaço gritava então: ‘Ó compadre, abra a porta! a parte destacada apresenta marcas do discurso

(A) indireto, pois reproduz fielmente a fala do homem rico.

(B) direto, pois há uma fala de outra personagem que não participa da história.

(C) indireto-livre, pois o narrador que fala em nome da personagem.

(D) direto, pois expressa fielmente a voz do homem rico na narrativa.

7. Releia o trecho: “E assim ficou o pobre rico, e o rico ridículo.” As palavras destacadas indicam uma figura da linguagem denominada 

(A) elipse, porque há omissão de palavra, mas pode ser demonstrada a partir da fala do homem rico.

(B) anáfora, porque a palavra foi repetida sempre no início das ações do homem rico.

(C) gradação, porque há uma sequência progressiva de palavras (verbos) indicando a movimentação do homem rico.

(D) aliteração, porque há uma repetição sonora da consoante /r/.

8. O uso das aspas no trecho: “Fecha a janela, compadre!” foi usado para:

(A) diferenciar a fala do narrador e da personagem.

(B) assinalar uma linguagem informal, própria da construção do gênero lido.

(C) marcar a fala da personagem na construção de um discurso direto.

(D) anteceder uma informação importante dita pela personagem.

9. No trecho “Havia dois homens, um rico e outro pobre, que gostavam de pregar peças um ao outro.”, o verbo “gostar” se estrutura na terceira pessoa do plural para manter a concordância com

(A) “rico” e “pobre” que são os núcleos do sujeito.

(B) sujeito indeterminado através da estrutura do verbo “havia”.

(C) oração sem sujeito, pois o verbo está relacionado a “haver”.

(D) “homens” que é o núcleo do sujeito e está estruturado no plural.

10. Na fala “Deixe-me, que os marimbondos estão me matando!” evidencia que ao transcrever o conto, o autor fez uso da língua com registro

(A) formal, pois a linguagem utilizada se apresenta dentro dos padrões de uso da língua.

(B) culta, pois a linguagem utilizada marca interlocutores amigos e em momentos de descontração.

(C) técnica, pois a linguagem utilizada é muito comum em contos populares.

(D) coloquial, pois a linguagem utilizada apresenta marcas de oralidade.

Produção de texto

Imagine que você tenha sido orientado pelo(a) professor(a) a recontar a história que acabou de ler sobre “A cumbuca de ouro e os marimbondos”. Expresse de forma criativa e dê outra versão ao conflito que gerou o clímax e desfecho da história.

Bom trabalho!