AULA 11/2022 – Crônica - 20/05/2022

Retomando o gênero textual crônica

Vamos relembrar?

crônica é um gênero textual muito presente em jornais, revistas, portais de internet e blogs. O gênero se destaca por abordar aspectos do cotidiano, ou seja, questões comuns do nosso dia a dia. Voltados ao cotidiano das cidades e podem ser entendidos como um retrato verbal particulardos acontecimentos urbanos. Os bons cronistas são aqueles que conseguem perceber, no dia a dia de suas vidas, impressões, ideias ou visões da realidade que não foram percebidas por todos.

O objetivo das crônicas é provocar uma reflexão sobre o assunto abordado. Os cronistas costumam identificar aspectos que, muitas vezes, passam despercebidos pelo restante da sociedade, mas que merecem observação e análise. 

Características

A crônica mescla a tipologia narrativa com trechos reflexivos e, em alguns casos, argumentativos. A linguagem da crônica costuma ser leve, marcada por coloquialidade e, não raro, cada cronista tem seu estilo próprio no uso das palavras. Os temas comuns a esse gênero são os mais variados possíveis. Qualquer assunto cotidiano pode ser motivo de crônica. Por ser um gênero nascido na cidade, é comum que tudo que ocorra no ambiente urbano passe a ser escrito em forma de crônica.  

Tipos de crônica

Existem diversos tipos de crônicas, desde as apenas narrativas, passando pelas crônicas jornalísticas até chegar em crônicas poéticas, que flertam com o literário. Inclusive, alguns grandes escritores brasileiros, como Machado de AssisLima Barreto ou Clarice Lispector foram renomados cronistas em seus tempos.

Disponível em: https://www.portugues.com.br/literatura/a-cronica-.html Acesso: 30 obr. 2022. (Adaptado)

Agora vamos falar de articuladores textuais

Mas o que são esses articuladores textuais? 

Os conectores discursivos são responsáveis pela articulação e progressão textuais. A utilização adequada desses recursos possibilita a redação de um texto claro e eficiente.

É fundamental que o autor de um texto exponha suas ideias de maneira clara e objetiva e construa parágrafos, períodos e orações muito bem articulados.

Essa articulação atribui a coesão textual, que é explicitada por meio de elementos de conexão são, normalmente, conjunçõesadvérbios e pronomes. A utilização adequada dos elementos de coesão promove o encadeamento das ideias e contribui para a progressão textual.

Há inúmeros conectores discursivos para que você possa redigir um texto com excelente articulação de ideias, com orações completas e sintaticamente bem estruturadas, além da pontuação. Entretanto, se forem mal-empregados, reduzem a capacidade de compreensão da mensagem e comprometem o texto.

Consultem, na tabela, alguns dos principais conectores discursivos e os efeitos de sentido que agregam às orações, aos períodos e aos parágrafos.

Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/conectores-discursivos.htm Acesso: 30 abr. 2022. (Adaptado)

Tabela com alguns dos principais conectores discursivos:

Você já deve ter ouvido a expressão “comeu com os olhos”. Já parou para pensar em seu significado?

Essa expressão deve ter surgido, provavelmente, porque são as características sensoriais dos alimentos, como aparência, consistência, forma, aroma e sabor, que influenciam os sentidos e despertam em nós a vontade de comê-los. Mas, alguns alimentos que consumimos não têm uma aparência tão impressionante. Brincando com isso, o autor da crônica a seguir imaginou o que um extraterrestre sentiria ao ver pela primeira vez alguns de nossos alimentos.

Leia a crônica e imagine-se no lugar do ET.

Eca!

Luis Fernando Verissimo

Um hipotético visitante extraterreno teria dificuldade em acompanhar uma refeição da nossa espécie sem ter ânsias de vômito. Sendo um ser hipoteticamente perfeito, que só se alimenta de um límpido líquido azul, nosso visitante não entenderia como os alemães conseguem comer repolhos azedos com tanta alegria e por que os americanos chamam o pepino estragado de “pickle” e o comem com tudo e os franceses esperam o peixe apodrecer antes de comê-lo, enquanto os japoneses nem esperam ele morrer.

E todos se entusiasmam com um fungo de má aparência chamado “champignon” e entram em êxtase com outro ainda mais feio chamado “trufa”, que é encontrado embaixo da terra por porcas no cio. Aliás, nosso ET se engasgaria só de pensar em tudo que fazemos com os porcos, inclusive comê-los.

Mas, o que certamente faria nosso visitante correr para o banheiro seria descobrir que os terrenos espremem um líquido branco e gorduroso das glândulas mamárias de um animal chamado “vaca” – e o bebem! Depois de reanimado, o extraterreno talvez gostasse de ouvir, já que se espanta tanto com os nossos hábitos exóticos, que a vaca é um animal sagrado, e, portanto, intocável, na Índia, um país em que se morre de fome. E que não apenas a vaca é sagrada, na Índia, como suas pegadas são sagradas e, de acordo com a teologia hindu, 330 milhões de deuses vivem dentro de cada animal, e que, portanto, matar uma vaca significaria um verdadeiro teocídio. Mas que nada disto é tão estranho quanto parece: numa terra superpopulosa como a Índia, a criação de gado para corte e consumo humano é indefensável. Quando se come animais que são alimentados com grãos, nove de dez calorias e quatro de cinco gramas de proteínas são perdidas. O animal usa a maior parte dos nutrientes que poderiam ser destinados ao homem. No caso, um mito religioso está a serviço de uma racionalidade camuflada.

Convencido de que somos uma raça, no mínimo, contraditória, o ET ainda terá algumas experiências nojentas pela frente. Verá pessoas destrinchando pequenos pássaros fritos com os dentes, pessoas comendo pernas de sapos e – o que contará com mais horror quando voltar para casa – pessoas usando alfinetes para catar o repugnante recheio de lesmas e levá-lo à boca. Lesmas!

VERISSIMO, Luis Fernando. Eca! Estadão.

Disponível em: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,eca-imp-,1157921.Acesso em 30 de abr. de 2022.

Imagem disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZDj1JFzDSJo. Acesso em 30 de abr. de 2022.

A crônica argumentativa é de caráter contemporâneo e tem como objetivo apresentar ao leitor uma visão pessoal sobre determinado assunto. Apresenta acentuado teor crítico, com presença de humor, ironia e, algumas vezes, sarcasmo. Tem linguagem coloquial, simples e direta, é um texto relativamente curto e trata de temas cotidianos e polêmicos. É uma fusão dos estilos jornalístico e literário, pois é objetiva, assim como os gêneros que circulam nos jornais, e, ao mesmo tempo, literária, por apresentar narrativa de ficção, com poucos personagens (se houver) em tempo e espaço limitados.

De acordo com Javier Cudeiro, especialista em fisiologia, o prazer da comida começa na cabeça e não no estômago, como muitos pensam. Segundo ele, é indiferente se comemos uma barata frita – é isso mesmo que você leu BA-RA-TA frita, não batata frita – ou uma carne de costela. Quem vai despertar nosso paladar e as sensações de prazer, nojo ou satisfação é o cérebro.

Quando se pensa nos sentidos, é habitual recordar os receptores externos, como o olfato, o gosto ou a vista, mas é o cérebro que interpreta a informação e a transforma num ato criativo. (Javier Cudeiro)

COMIDA exótica. Superinteressante. São Paulo:Abril, n. 178, fev. 2013. Edição especial. Acesso em 30 de abr. de 2022. 

Portanto, como relata o cronista, cada cultura escolhe seu tipo de alimentação de acordo com o que racionaliza. O autor do texto que acabamos de ler apresenta esse tema, de maneira bem-humorada, em sua crônica argumentativa.

Vamos analisar quais outras características desse gênero estão no texto lido? Verifique respondendo às questões a seguir.

1. Partindo de que hipótese a crônica de Luís Fernando Verissimo foi escrita?

2. Que opinião o autor apresenta a respeito da nossa alimentação?

3. Que ponto de vista o cronista sustenta ao mostrar as impressões do ET sobre a Índia?

4. Outro ponto de vista revelado pelo cronista é: “um mito religioso está a serviço de uma racionalidade camuflada”. Como se pode explicar essa afirmação?

5. Assinale a alternativa que explica a contradição que o cronista aponta na frase: “a vaca é um animal sagrado, e, portanto, intocável, na Índia, um país em que se morre de fome”.

(A) A vaca, apesar de ser sagrada e intocável, serve como alimento aos indianos.

(B) A vaca, apesar de servir como alimento, não faz parte da alimentação dos indianos, pois eles a consideram sagrada.

(C) Os indianos não tocam na vaca antes de comê-la devido ao fato de ela ser sagrada.

6. O cronista apresenta possíveis estranhamentos que nossos hábitos alimentares causariam nos extraterrenos. Transcreva do texto alguns trechos que apresentam esses hábitos.

7. O que há de crítico e humorado na crônica?

8. A crônica lida pode ser considerada uma fusão entre o literário e o jornalístico? Justifique.

9. Considere a sentença: “…os americanos chamam o pepino estragado de “pickle” e o comem com tudo…” A conjunção “e”, destacada no trecho, dá a ideia de

(A) condição, pois o conectivo articula uma ideia de oposição em relação à ideia anterior.

(B) oposição, pois o conector articula uma relação de oposição à ideia expressa anteriormente no texto.

(C) adição, pois o conectivo serve para adicionar uma ideia à outra já existente no texto.

(D) conclusão, pois estabelece uma relação de conclusão em relação ao que foi dito antes.

10. Considere a sentença: “Aliás, nosso ET se engasgaria só de pensar em tudo que fazemos com os porcos, inclusive comê-los.”, a palavra “los(pronome oblíquo átono) foi usada para evitar repetições e refere-se a (à)

(A)  porcos.

(B)  nosso ET.

(C)  tudo.

(D)  engasgaria.

11. Releia o fragmento:

Mas, o que certamente faria nosso visitante correr para o banheiro seria descobrir que os terrenos espremem um líquido branco e gorduroso das glândulas mamárias de um animal chamado “vaca”.

A conjunção em destaque, no fragmento acima, introduz a ideia de

(A) adição.

(B) oposição.

(C) explicação.

(D) adição.

Produção textual

O texto Eca!, de Luis Fernando Verissimo, é uma crônica bem-humorada sobre a suposta análise que um extraterrestre faria de nossos hábitos alimentares. Inspire-se no que foi lido e discutido nesta aula, e produza uma crônica argumentativa sobre o tema comidas exóticas, colocando-se no lugar de alguém que se depara com hábitos alimentares muito diferentes dos seus.

Por ser um texto breve, leve, informal e sem muito compromisso com a forma, a crônica comporta vários formatos. O objetivo é fazer um recorte do cotidiano e uma reflexão escrita sobre ele. Nesse caso, o que faz parte do cotidiano é a alimentação, e o diferencial da sua crônica será o “exótico”. Para escrever sua crônica, formule reflexões acerca do fato escolhido com base nos seguintes questionamentos.

  • Sobre que comida ou pratos irá falar?
  • Onde essa comida é encontrada?
  • Qual fato ocorre com essa comida? O que é possível contar ou relacionar a esse fato?
  • A maioria das pessoas gosta ou não dessa comida?
  • O aspecto é atrativo, estranho etc.?
  • Ao escrever, deixe seu ponto de vista e suas reflexões evidentes. Lembre-se de usar uma linguagem clara e informal – característica da crônica –, mas não descuide da norma-padrão.
  • Utilize elementos coesivos para construir um texto objetivo e de fácil compreensão.

Lembre-se de que, para produzir sua crônica, é importante, antes de tudo, ser um bom observador dos detalhes, daquilo que te chama a atenção. A observação da realidade por uma perspectiva inusitada leva o cronista a desenvolver bem seus textos. Ademais, um texto de qualidade deve ser projetado, rascunhado e revisado.