AULA 12/2022 – Autobiografia. - 10/06/2022

ENTENDA O QUE É UMA AUTOBIOGRAFIA

autobiografia é um tipo de gênero literário que constitui uma narrativa de caráter pessoal. O seu traço mais significativo é o fato de ter o próprio escritor como personagem principal. Para produzir uma autobiografia é necessário que o autor busque aspectos literários e não históricos ou documentais, porque ora a narrativa apresenta um resgate memorialístico (baseado na realidade) ora constrói a trama com os fios da ficção.

Por isso, as autobiografias podem assumir diversos formatos como diários, memórias, poemas, músicas, roteiros, cartas, entre outros. O caráter biográfico da obra não acontece na sua formatação, mas em seus elementos linguísticos. Normalmente a narração é feita na primeira pessoa do singular e aborda questões íntimas e pessoais.

O narrador pode contar a sua história desde o nascimento até a vida atual. Dessa maneira, existe autobiografados adultos e/ou crianças que geralmente são pessoas conhecidas no país em que moram. Entretanto, isso não é uma regra. Há pessoas que têm a vida marcada por algum fato.

Algumas autobiografias famosas:

A autobiografia não deve ser analisada apenas da perspectiva individual. Ela é um gênero que propõe a integração coletiva porque ao narrar a sua história o indivíduo partilha com o mundo suas impressões e a sua visão de mundo, permitindo ao leitor/público ter acesso a outras perspectivas. Além disso, muitas autobiografias podem tornam-se um livro, um roteiro de cinema, ou publicações em blogs, redes sociais e vídeos em formato de stories.

Imagem disponível em https://www.amazon.com.br/Autobiografia-Benjamin-Franklin/dp/6580136049. Acesso em 09 de maio de 2022.

Texto disponível em https://www.infoescola.com/generos-literarios/autobiografia/. Acesso em 09 de maio de 2022. (adaptado)

ATIVIDADES

Leia a apresentação que faz de si mesmo o escritor de livros infantis Bartolomeu Campos Queiroz. Depois, responda às questões de 1 a 8.

…das saudades que não tenho

Nasci com 57 anos. Meu pai me legou seus 34, vividos com duvidosos amores, desejos escondidos. Minha mãe me destinou seus 23, marcados com traições e perdas. Assim, somados, o que herdei foi a capacidade de associar amor ao sofrimento…

Morava numa cidade pequena do interior de Minas, enfeitada de rezas, procissões, novenas e pecados. Cidade com sabor de laranja-serra-d’água, onde minha solidão já pressentida era tomada pelo vigário, professora, padrinho, beata, como exemplo de perfeição. (…) Meu pai não passeou comigo montado em seus ombros, nem minha mãe cantou cantigas de ninar para me trazer o sono. Mesmo nascendo com 57 anos estava aos 60 obrigado ainda a ser criança. E ser menino era honrar pai com seus amores ocultos. Gostar da mãe e seus suspiros de desventuras.

 (…) Tive uma educação primorosa. Minha primeira cartilha foi o olhar do meu pai, que me autorizava a comer ou não mais um doce nas festas de aniversário. Comer com a boca fechada, é claro, para ficar mais bonito e meu pai receber elogios pelo filho contido que ele tinha. E cada dia eu era visto como a mais exemplar das crianças, naquela cidade onde a liberdade nunca tinha aberto as asas sobre nós. Mas a originalidade de minha mãe ninguém poderá desconhecer. Ela era capaz de dizer coisas que nenhuma mãe do mundo dizia, como por exemplo: – Você, quando crescer vai ter um filho igual a você. Deus há de me atender, para você passar pelo que eu estou passando. – Mãe é uma só.

(Bartolomeu Campos Queiroz, em Abramovich, Fanny (org.). O mito da infância feliz. Summus, São Paulo, 1983).

1. Na autobiografia de Bartolomeu Campos Queiroz, o narrador apresenta uma história de vida marcada por

(A) uma alegria e uma satisfação em poder contar sua história marcada por grandes aventuras na infância.

(B) uma satisfação pela vida que tinha, apesar dos sofrimentos e de não poder comer doces nas festas de aniversário.

(C) morar em uma cidade pequena, repleta de procissões, novenas e rezas que ele adorava.

(D) uma tristeza e uma forte crítica tanto em relação à educação dada pelos pais, quanto aos costumes da cidadezinha onde nasceu.

2. É sugerido no texto autobiográfico que nós todos nascemos velhos e somos parte de vidas já vividas pelos pais e até mesmo pela sociedade. Isso fica simbolizado através do trecho:

(A) “Nasci com 57 anos. Meu pai me legou seus 34, vividos com duvidosos amores, desejos escondidos. Minha mãe me destinou seus 23, marcados com traições e perdas. Assim, somados, o que herdei foi a capacidade de associar amor ao sofrimento…”

(B) “Tive uma educação primorosa. Minha primeira cartilha foi o olhar do meu pai, que me autorizava a comer ou não mais um doce nas festas de aniversário.”

(C) “E ser menino era honrar pai com seus amores ocultos. Gostar da mãe e seus suspiros de desventuras.”

(D) “Meu pai não passeou comigo montado em seus ombros, nem minha mãe cantou cantigas de ninar para me trazer o sono”.

3. No texto, Bartolomeu faz referências irônicas à criação que os pais deram a ele. Em qual trecho é possível perceber o uso da ironia como recurso textual?

(A) “Mesmo nascendo com 57 anos estava aos 60 obrigado ainda a ser criança.”

(B) “E ser menino era honrar pai com seus amores ocultos.”

(C) “Gostar da mãe e seus suspiros de desventuras.”

(D) “Tive uma educação primorosa.”

4. No trecho “Nasci com 57 anos. Meu pai me legou seus 34, vividos com duvidosos amores, desejos escondidos. Minha mãe me destinou seus 23, marcados com traições e perdas.”, os verbos são estruturados marcando o tempo pretérito perfeito do modo indicativo. Isso sugere uma ideia de

(A) ação não concluída no passado.

(B) ação concluída no passado.

(C) estado que vivia a personagem.

(D) modo de se comportar frente à mãe e ao pai.

5. Releia o trecho: “Meu pai não passeou comigo montado em seus ombros, nem minha mãe cantou cantigas de ninar para me trazer o sono.” As palavras destacadas expressam o sentimento de:

(A) abandono vivenciado pelo narrador-personagem.

(B) carinho vivenciado pelo narrador-personagem.

(C) revolta vivenciada pelo narrador-personagem.

(D) indignação vivenciada pelo narrador-personagem.

6. Qual o sentido de “primorosa” no trecho “…Tive uma educação primorosa”?

(A) Excelente.

(B) Imperfeita.

(C) Cerimoniosa.

(D) Grosseira.

7. No trecho “Comer com a boca fechada, é claro, para ficar mais bonito e meu pai receber elogios pelo filho contido que ele tinha” a palavra destacada se refere a qual elemento textual anterior?

(A) Pai.

(B) Comer.

(C) Filho.

(D) Boca.

8. No trecho “– Mãe é uma só”, Bartolomeu reproduz a fala da mãe evidenciando:

(A) traços da fala e da personalidade da mãe e como ele era tratado com carinho na infância.

(B) a história vivenciada pelos pais da personagem e é escrito em terceira pessoa.

(C) a reprodução da fala da mãe, uma vez que ele é o narrador da própria história.

(D) a história contada por um narrador-observador, pois a personagem não tem voz própria.

Leia o poema de Casimiro de Abreu e compare com a autobiografia de Bartolomeu Campos Queiroz para responder às questões 9 e 10.




Disponível em https://www.facebook.com/redepedagogica/photos/a.1917315995183307/2837261839855380/ Acesso em 09 de maio de 2022.

9. O relato dos fatos no texto autobiográfico aparece frequentemente pontuado de lembranças, de um colorido emocional. Percebemos que no poema isso também ocorre, marcando a presença de uma linguagem:

(A) formal, pois expressa uma organização exaltando os sentimentos e preferências da personagem.

(B) objetiva, pois expressa de forma clara os sentimentos e as preferências da personagem.

(C) subjetiva, pois expressa pontos de vista e julgamentos de valor do próprio narrador, seus sentimentos e suas preferências.

(D) Informal, pois expressa de forma muito imparcial as preferências da personagem.

10. Na autobiografia, Bartolomeu relata sua infância em uma cidade do interior e coloca como título “… das saudades que não tenho”. Como podemos explicar a relação textual construída por Bartolomeu com o poema de Casimiro de Abreu? 

Produção de Texto

Agora é a sua vez! Retome as características principais da autobiografia e construa a sua. Converse com alguém da sua família e pesquisa as seguintes informações sobre você:

● Quando e onde nasceu? Tem lembranças do lugar?

● Como foi a escolha do seu nome? Quem escolheu? 

● Onde estudou e estuda?

● Coloque alguns fatos marcantes: datas que considerar importante para você. Exemplo: nascimento de um irmão, aniversário de alguém, fato marcante: por exemplo, a pandemia.

● Escreva também sobre as coisas que gosta de fazer;

● Como é a sua escola na atualidade (aquilo que gosta ou não gosta);

Escreva quais são seus sonhos para o futuro.

Bom trabalho!

Abaixo você terá mais um exemplo de autobiografia.

                                       Minha vida, minha história

Quando eu era criança e vivia com meus pais, as coisas eram muito difíceis. Eu ainda não trabalhava, apenas estudava. A escola ficava longe de casa e eu tinha que andar muito. Saía bem cedo de casa para chegar dentro do horário, mas mesmo assim gostava. Durante muito tempo moramos no sítio onde brincávamos muito. Brincávamos de carrinho, nadávamos em açudes, brincávamos debaixo das árvores e outras brincadeiras daquela época.

Naquele tempo eu não sabia o que queria da vida, mas sabia que meu pai trabalhava muito para sustentar a família que era bastante grande. Éramos em nove irmãos e meu pai sozinho para trabalhar duro na roça. Ele labutava muito, porém, sempre tinha um sorriso em seus lábios e uma coragem imensa. Em uma linda manhã, estava brincando no quintal da casa e cansado de tanto correr e pular, parei para descansar debaixo de uma frondosa árvore onde havia um balanço. Sentei-me naquele balanço e me pus a balançar. Parei e fiquei apenas sentado, olhando para o nada, sem falar com ninguém. Fiquei assim não sei por quanto tempo, apenas refletindo. Depois de muita reflexão e sem saber muito da vida e sem nenhum conhecimento, alguns pensamentos surgiram e um deles foi o de que eu também poderia fazer alguma coisa naquele lugar, mas fazer o quê ali? Tudo era longe, nem vizinhos tínhamos.

Algum tempo depois, meu pai resolveu ir embora daquele sítio onde eu nasci e vivi por treze anos. Foi muito difícil sair daquele lugar. Com um aperto no coração, deixamos aquele lugar e fomos para outro perto dos meus tios. Com meus treze anos, meu pai me tirou da escola para ajudá-lo na roça e aumentar a renda da família. Dessa forma, ajudaria nas despesas de casa.

Durante minha adolescência trabalhei muito na roça com meu pai e meus irmãos. Quase não tinha tempo para brincadeiras, para sair com amigos e conhecer novas pessoas e fazer novas amizades. Isso tudo ainda era difícil. Agora me ponho a pensar em tudo que vivi, nas dificuldades e nas brincadeiras de criança, nas coisas que aprendi e fiz e que por hora ficaram para trás.

No momento, só uma imensa saudade e uma grande vontade de chorar. Sinto saudade também dos amigos que ficaram distantes e que nunca mais nos encontramos.

Daqui há alguns anos, se Deus me permitir, outras lembranças se juntarão as já vividas, as quais servirão para eu crescer pessoalmente e fortalecer meus conhecimentos.

Hoje, estou estudando para terminar aquele estudo que meu pai me fez interromper para ajudá-lo nas tarefas da roça e, essa é “minha vida, minha história”.

                                                                                            Autobiografia de Cláudio Florencio de Brito

Disponível em http://www.escoladeformacao.sp.gov.br/portais/Portals/84/docs/pdf/minha-vida-minha-historia.pdf Acesso em 09 de maio de 2022.