AULA 12 -Crônica - 24/08/2023

O que é crônica?

Dentre os inúmeros gêneros textuais existentes, um dos mais populares e utilizados para descrever situações do cotidiano é a crônica. Muito usado em textos jornalísticos publicados em jornais e revistas, é um gênero textual curto escrito em prosa, escrita em uma linguagem simples e coloquial, que torna a leitura mais fácil e agradável. Também permite que o leitor se sinta amigo do cronista, já que o texto é desenvolvido em tom de conversa informal.
A crônica é um tipo de texto que tem prazo de validade por se tratar de um assunto contemporâneo, geralmente uma crítica ou comentário sobre algo que está sendo debatido no momento.

Entre as principais características da crônica, é possível destacar a linguagem simples, objetiva e o texto curto. Além de se tratar de uma abordagem que geralmente retrata temas contemporâneos.
Em seu eixo temático, é um texto que retrata acontecimentos do cotidiano, sempre com um caráter crítico (sobre comportamentos sociais, leis, instituições etc.). É um gênero textual que passeia entre o jornalístico e o literário, trazendo temas reais trabalhados de forma mais subjetiva.
A crônica é um tipo de texto que chama atenção pelo seu tom mais leve, muitas vezes irônico e
humorístico, prendendo a atenção do leitor por contar a história de forma rápida e sem grandes detalhamentos.
A essência da crônica é:
 Trata de assuntos contemporâneos.
 Utiliza linguagem simples e coloquial.
 Faz uso de poucos ou nenhum personagem.
 Tom irônico e humorístico.
 Bastante usado no jornalismo.
 Textos rápidos e objetivos.
 Apesar de se tratar de um texto narrativo-descritivo, a crônica pode ser escrita de formas diferentes e tratar os assuntos de formas distintas. Entre os principais tipos de crônica, é possível destacar:
 Crônica narrativa – conta fatos do cotidiano, acontecimentos das últimas semanas e ações em geral.
 Crônica descritiva – se trata de um texto descritivo sobre uma determinada situação do cotidiano, em algum local, contendo ou não personagens. Explora ao máximo os detalhes do objeto, local, pessoa ou animal que o cronista deseja descrever.
Crônica humorística – voltada ao humor, mas que usa a seu favor a ironia para entreter seu público. Na maioria das vezes, a crônica humorística é utilizada para contar um acontecimento político, econômico ou cultural de uma forma mais descontraída.
Crônica jornalística – texto muito utilizado pela imprensa brasileira para retratar e refletir sobre temas da
atualidade em uma linguagem um pouco mais leve. Esse tipo de crônica possui um caráter mais narrativo e argumentativo, mas sempre trazendo a leveza textual.

Imagem disponível em https://beduka.com/blog/exercicios/portugues-exercicios/exercicios-sobre-cronicas/ Acesso em 14 de jun. de 2021.
Disponível em https://www.stoodi.com.br/blog/portugues/generos-textuais-cronica-e-suas-principais-caracteristicas/ Acesso em 16 de jun. de 2021. (Adapatda)

Leia o texto abaixo e depois responda as atividades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.

ONDE JÁ SE VIU?- Tatiana Belinky

Uma tarde de inverno, estava eu lá, na Rua Barão de Itapetininga, mexendo nas estantes de uma livraria. (Não consigo passar por uma sem entrar para fuçar no meio dos livros. Desde que eu tinha quatro anos de idade – o que já faz muito tempo – livro para mim é a coisa mais gostosa do mundo. A gente nunca sabe que surpresa vai encontrar entre duas capas. Pode ser coisa de boniteza, ou de tristeza, ou de poesia, ou de risada, ou de susto, sei lá. Um livro é sempre uma aventura, vale a pena tentar!)

Pois bem, estava eu ali, muito entretida, examinando os livros, quando de repente senti que alguém me puxava pela manga. Olhei para baixo e vi um menino
– um garotinho de uns nove ou dez anos, magrelo, sujinho, de roupa esfarrapada e pé no chão. Uma dessas crianças que andam largadas pelas ruas da cidade, pedindo esmola. Ou, no melhor dos casos, vendendo colchetes ou dropes, essas coisas. Eu já ia abrindo a bolsa para livrar-me logo dele, quando o garoto disse:
_ Escuta, tia… (naquele tempo, ninguém chamava a gente de tia: tia era só a irmã do pai ou da mãe).

_ O quê? _ perguntei. _ O que você quer?
_ Eu… dona, me compra um livro? _ disse ele baixinho, meio com medo.
Dizer que fiquei surpresa é pouco. O jeito do menino era de quem precisava de comida, de roupa, isso sim. Duvidei do que ouvira:
_ Você não prefere algum dinheiro? _ perguntei.
_ Não, dona _ disse o garoto, mais animado, olhando-me agora bem nos olhos. _ Eu queria um livro. Me compra um livro?
Meu coração começou a bater mais forte.
_ Escolha o livro que você quiser _ falei.
As pessoas na livraria começaram a observar a cena, incrédulas e curiosas. O menino já estava junto à prateleira, procurando, examinando ora um livro, ora outro, todo excitado. Um vendedor se aproximou, meio desconfiado, com cara de querer intervir.
_ Deixe o menino escolher um livro _ falei. _ Eu pago.
As pessoas em volta me olhavam admiradas. Onde já se viu alguém comprar um livro para um molequinho maltrapilho daqueles?
Pois vou lhes contar: foi exatamente o que se viu naquela tarde, naquela livraria. O menino acabou se decidindo por um livro de aventuras, nem me lembro qual. Mas me lembro bem da minha emoção quando lhe entreguei o volume e vi seus olhinhos brilhando ao me dizer um apressado obrigado, dona! Antes de sair em disparada, abraçando o livro apertado ao peito.
Quanto aos meus próprios olhos, estes embaçaram estranhamente, quando pensei comigo: “Tanta criança rica não sabe o que perde, não lendo, e este menino pobre _ que certamente não era um pobre menino _ sabe o valor que tem essa maravilha que se chama livro!”
Isso aconteceu há vários anos. Bem que eu gostaria de saber o que foi feito daquele menino…

Tatiana Belinky. Onde já se viu? In: _ Olhos de ver. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2004. P. 19-21.

  1. A crônica é um gênero textual de narrativa breve, geralmente produzida para ser publicada em jornais ou revistas. Refere-se a assuntos do cotidiano, apresenta linguagem coloquial e, às vezes, mistura os níveis de linguagem formal e informal.
    a) Qual fato ou situação foi o ponto de partida da crônica de Tatiana Belinky?
    b) Que tipo de linguagem é empregada na crônica? Justifique a resposta anterior com trechos do texto.
    c) Quando e onde o fato aconteceu?

2. Em sua opinião, a narradora realmente vivenciou o fato (ou situação) ou ela o criou?

3. A crônica pode ter vários objetivos: divertir o leitor, fazê-lo refletir ou emocioná-lo. Qual das alternativas abaixo está de
acordo com a crônica que você leu?
a) ( ) Trata de um assunto qualquer de forma divertida e bem-humorada.
b) ( ) Reflete, de forma poética, sobre uma situação, despertando a emoção no leitor.
c) ( ) Reflete, de forma crítica, sobre o problema das famílias menos favorecidas.
d) ( ) Reflete sobre a importância da leitura em sala de aula.

4. Leia a frase “Dizer que fiquei surpresa é pouco.” Imagine que você estava na livraria, no momento do acontecimento. Descreva, com detalhes (gestos, expressão facial) como seria a surpresa da autora.

  1. No antepenúltimo parágrafo do texto, foi empregado o sinônimo do substantivo livro. Escreva qual é o substantivo e explique por que ele foi empregado.
  1. Ao dizer que seus olhos se “embaraçaram estranhamente “, a autora revela que
    a) ( ) achou muito estranho tudo o que aconteceu na livraria.
    b) ( ) ficou emocionada ao perceber como o menino valorizava a leitura.
    c) ( ) ficou com pena de não ter dado também uma esmola para o menino.
    d) ( ) estranhou o fato de o menino gostar de ler.

8. O texto apresenta algumas expressões características de uma linguagem informal, típicas da expressão falada.
Reescreva os trechos a seguir, substituindo as palavras destacadas por outras de mesmo sentido.
a) “Não consigo passar por uma sem entrar para fuçar no meio dos livros.” (remexer)
b) “… estava eu ali, muito entretida, examinando os livros…” (distraída, absorta)
c) “As pessoas na livraria começaram a observar a cena, incrédulas e curiosas.” (desconfiadas)
d) “… examinando ora um livro, ora outro, todo excitado.” (entusiasmado)
e) “Antes de sair em disparada, abraçando o livro apertado ao peito.” (velozmente)

9. Releia a seguinte fala da narradora da crônica.
“Tanta criança rica não sabe o que perde, não lendo, e este menino pobre – que certamente não era um pobre menino – sabe o valor que tem essa maravilha que se chama livro!”
Com esse comentário, a narradora faz uma crítica em relação ao hábito de leitura entre crianças de diferentes realidades sociais. Explique como se dá essa crítica.

Leia o texto, a seguir, e respondas as atividades 10, 11, 12, 13 e 14.
FUGA

Mal o pai colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.
− Para com esse barulho, meu filho – falou, sem se voltar.
Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.
− Pois então para de empurrar a cadeira.
− Eu vou embora – foi a resposta.
Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão suas coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de plástico com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa? – a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.
A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente, o pai olhou ao redor e não viu o menino.
Deu com a porta da rua aberta, correu até o portão:
− Viu um menino saindo desta casa? – gritou para o operário que descansava diante da obra do outro lado da rua, sentado no meio-fio.
− Saiu agora mesmo com uma trouxinha – informou ele.
Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo do muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de biscoito e – saíra de casa prevenido uma moeda de 1 cruzeiro.
Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à avenida, como disposto a atirar-se diante do ônibus que surgia à distância.
− Meu filho, cuidado!
O ônibus deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a um animalzinho:
− Que susto que você me passou, meu filho! – e apertava-o contra o peito, comovido.
− Deixa eu descer, papai. Você está me machucando. Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:
− Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai.
− Me larga. Eu quero ir embora. Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala – tendo antes o cuidado de fechar a porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.
− Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.
− Fico, mas vou empurrar esta cadeira. E o barulho recomeçou.

SABINO, Fernando. As melhores crônicas. Rio de Janeiro: Record, 1986
Disponível em < https://www.tudosaladeaula.com/2017/08/o-pai-colocou-o-papel-na-maquina-o.html> Acesso em 16 de jun. de 2021.

  1. No texto, qual o acontecimento que deu origem ao conflito?

13. Na crônica lida, os fatos são apresentados em 1a ou 3a pessoa? Justifique sua resposta com trechos do texto.

14. Em: “O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço…”, como ficariam no plural as formas verbais destacadas?

  1. Produção textual
    No último parágrafo do texto “Onde já se viu?”, de Tatiana Belinky, a autora esclarece que gostaria muito de saber o que foi feito daquele menino. Continue a crônica da autora.
    Escreva sua crônica contando o que aconteceu ao menino da livraria, insira detalhes descrevendo os lugares e as emoções que você sentiu ao encontrá-lo.
    Não se esqueça de revisar o seu texto, verificando aspectos relativos à ortografia, à concordância e, se necessário, reescrever seu texto, fazendo as devidas correções.