AULA 16/2022 – A divisão do mundo em Ocidente e Oriente - 08/09/2022

VOCÊ SE CONSIDERA OCIDENTAL?
PARA GRANDE PARTE DO MUNDO, BRASIL NÃO FAZ PARTE DO OCIDENTE.

Para os brasileiros, esta não é uma questão: nos consideramos ocidentais. Na escola, na mídia, no dia a dia, falamos do Ocidente como o lugar a que pertencemos: “aqui no Ocidente, a Ioga ainda é vista como hobby”, dizia artigo em um jornal. Mas, se tiver algum amigo europeu ou norte-americano, faça o teste. Pergunte se o Brasil é um país ocidental. A resposta revelará que a definição não é tão consensual. O Ocidente não somos nós – ao menos para grande parte do mundo.

Isso porque falar uma língua de origem latina e estar a oeste do meridiano de Greenwich não é suficiente para estar no Ocidente. Enquanto Estados Unidos e Portugal são indiscutivelmente “ocidentais”, a classificação de países como o Brasil e a Argentina não é unânime. Mas, afinal, o que faz um país ocidental?

Um conceito mutável 

A dicotomia (divisão) Ocidente-Oriente remonta à época do império Romano e, desde os primórdios, já guardava aspectos tanto geográficos quanto culturais. 

No período de queda do império, a divisão tomou caráter oficial com a instituição do Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, e o Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla (atual Istambul, visto na imagem a seguir).

Enquanto a parte ocidental se desintegrou já no século 5, o império a Oriente se manteve unificado até 1453, quando foi tomado pelos turcos islâmicos. A partir desse momento, o conceito de Ocidente começa a aproximar da ideia de “cristandade”, em oposição ao islã que vinha do oriente. 

“O Ocidente sempre se definiu em oposição a algo, ora em relação aos povos islâmicos do Oriente Médio, ora em relação aos povos asiáticos de maneira geral”, afirma o professor José Henrique Bortoluci, do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da FGV. “É um conceito que necessariamente abarca uma exclusão do outro”. 

Dos romanos aos dias atuais, o conceito de ocidente ganhou diversas interpretações e durante a Guerra Fria adquiriu também contornos políticos e econômicos.

“No período da Guerra Fria, o conceito de Ocidente passa a ser associado a existência de certas instituições, como democracia e capitalismo e, ainda que de maneira difusa, também a valores judaico-cristãos.”

José Henrique Bortoluci, professor da FGV 

Dessa maneira, explica Bortolucci, países como Austrália e Nova Zelândia seriam indiscutivelmente parte do mundo ocidental, ainda que geograficamente estejam mais próximos da Ásia.

E o Brasil?

Não há consenso sobre qual a classificação para o Brasil. Se não somos ocidentais, há diversas classificações possíveis: latino-americanos ou mundo em desenvolvimento são opções.  Outras regiões neste ‘limbo’ classificatório são a África e a Rússia.

“A classificação da América Latina e do Brasil é particularmente problemática”, segundo o professor. Se por um lado a colonização europeia deixou marcas na língua e no modelo de organização dos países latino-americanos, o subdesenvolvimento socioeconômico e as ditaduras que marcaram a história da região excluiriam esses países do clube ocidental.

“Alguns estudiosos se referiam a América Latina como ‘extremo ocidente’ para demarcar a diferença em relação aos países capitalistas avançados”.

Termo cunhado pelo diplomata e politólogo francês Alain Rouquié 

Em outras palavras, na parte ‘desenvolvida’ do mundo, o Ocidente é sinônimo de desenvolvimento, democracia e cultura de base europeia — uma definição vaga que não deixa de ter certa carga de preconceito. Para Oliver Stuenkel, autor do livro O Mundo Pós-Ocidental, o debate acerca da filiação do Brasil ao Ocidente gera poucos resultados concretos para as políticas externas. 

“O conceito de Ocidente é ambíguo e, na prática, traz mais problemas que soluções”, afirma. Mesmo entre os formuladores da política externa brasileira parece não existir consenso. “O Itamaraty evita o uso do termo ‘Ocidente’ na sua linguagem diplomática oficial porque mesmo entre diplomatas não há entendimento comum”, afirma o estudioso. 

Stuenkel, no entanto, vê vantagens nessa ambiguidade do Brasil em relação ao ocidente. “Em um mundo multipolar, ter legitimidade para dialogar com vários atores é estratégico. O Brasil é um dos poucos países que consegue dialogar com as potências ocidentais ao mesmo tempo que tem legitimidade para liderar os países não ocidentais”.

Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/09/24/brasil-nao-e-pais-ocidental.htm Acesso em: 04 de set de 2020.

ATIVIDADES

1. Qual é a origem histórica e cultural da noção de Ocidente e Oriente?

2. Segundo a discussão do texto, o Brasil pode ser considerado um país ocidental? Por quê?

3. De acordo com o texto o quê, por fim, significa “Ocidente”?

4. As expressões “velho mundo”, “novo mundo” e “novíssimo mundo” referem-se a uma forma de distinção dos continentes que

A) obedece a fatores econômicos.

B) corresponde a uma visão eurocêntrica.

C) designa as mudanças no poderio das lideranças mundiais.

D) está relacionada aos processos de descolonização.

5. As discussões sobre o povoamento do continente americano estão relacionadas também com questões políticas. Um dos problemas de ordem política e cultural que estariam relacionados com essas discussões é

A) a tese da superioridade do homem tropical, que se contrapõe à superioridade do homem africano.

B) a tese da impossibilidade da travessia do Estreito de Bering.

C) a tese da falsidade das pinturas arqueológicas da Serra da Capivara, no Piauí.

D) a tese do eurocentrismo, que, entre outras coisas, advoga a expansão da humanidade pelo mundo a partir do continente europeu.

6. A xenofobia não é necessariamente um problema continental, mas territorial e que se estabelece através das distinções entre os diferentes Estados e as diferentes nações. No entanto, há um continente no planeta que se destaca dos demais por apresentar com maior frequência a prática de manifestações xenofóbicas, que é

A) a África.B) a Europa.C) a Ásia.D) a América do Norte.

7. Escreva a citação do professor José Henrique Bortoluci, que fala sobre o conceito de Ocidente durante o período da Guerra Fria.