AULA 22/2022 – Texto teatral. Estrutura composicional - 05/12/2022

TEXTO TEATRAL

Você já assistiu a uma peça de teatro? Tanto um filme quanto uma peça de teatro têm as mesmas características: contam uma história. O texto que você vai ler é um trecho da peça teatral chamada O pagador de promessas, escrita por Dias Gomes em 1960, e conta a história de Zé do Burro, um homem humilde e obstinado em cumprir uma promessa. Será que ele vai conseguir?

O autor desta obra, Dias Gomes, escreveu também minisséries e telenovelas como Saramandaia, Roque Santeiro, O Bem Amado, entre outras.

 Pagador de promessas

Disponível em: https://teatrosesiminas.com.br/wp-content/uploads/o-pagador-de-promessas-teatro.webp/ Acesso em: 31 out. 2022.

Um texto teatral é sempre escrito para ser encenado, por isso é importante termos em mente que ele foi feito para ser levado ao palco. Assim como a narrativa, o texto dramatizado apresenta personagens, enredo, tempo e espaço. No entanto, é concebido na interação entre os interlocutores através da representação. Por meio do diálogo, a ação dramática acontece e o conflito é apresentado. Sem conflito, não há ação dramática. Ele pode acontecer entre duas personagens, entre o protagonista e a sociedade ou ainda pode ocorrer no interior do próprio personagem.

Outro elemento que estará presente neste gênero textual são as rubricas, ou indicações cênicas. Nelas, o autor indicará os personagens que estarão em cena, qual o cenário da ação e apontará como são os personagens. Estas indicações serão de grande auxílio para os diretores e atores na montagem da peça.

Em O pagador de promessas, o conflito se estabelece no âmbito da fé. A saga do personagem Zé do Burro se inicia no interior da Bahia. Acompanhado de sua mulher, Rosa, ele atravessa o sertão carregando uma cruz de madeira com a intenção de cumprir a promessa que havia feito à Santa Bárbara: levar a cruz até o altar da santa. Ao chegar à igreja de Santa Bárbara, o padre da paróquia acusa Zé do Burro de heresia, primeiramente pelo fato de a promessa ter sido feita em um terreiro de Candomblé e, em segundo lugar, por seu motivo: a cura do ferimento do burro de estimação do protagonista.

Dentro desta ambientação, Zé do Burro e Padre Olavo representam dois tipos antagônicos: o primeiro é um homem do campo simples, que respeita as práticas religiosas diferentes, interagindo com todas elas; o segundo é um padre que só aceita e respeita o culto católico. Neste sentido, cultura popular e sincretismo religioso estabelecem um conflito com a cultura.

No trecho que leremos, Zé do Burro chega à igreja com sua cruz, e o conflito, nesta passagem, estabelecer-se-á na dúvida de como ele irá completar sua promessa: se vai aguardar a abertura da igreja, se vai levar a cruz até o altar ou se ouvirá os apelos de sua esposa para retornarem imediatamente para casa, uma vez que se encontram exaustos.

Disponível em: https://canal.cecierj.edu.br/012016/97a3e760bb65630c2b5c2c8d0c7d4e2d.pdf/ Acesso em: 31 out. 2022.

Leia um trecho do texto.

O pagador de promessas

(…)

Devem ser aproximadamente, quatro e meia da manhã. Tanto a igreja como a vendola estão com suas portas cerradas. Vem de longe o som dos atabaques dum candomblé distante, no toque de Iansan. Decorrem alguns segundos até que Zé-do-Burro surja, pela rua da direita, carregando nas costas uma enorme e pesada cruz de madeira.

A passos lentos, cansado, entra na praça, seguido de Rosa, sua mulher. Ele é um homem ainda moço, de 30 anos presumíveis, magro, de estatura média. Seu olhar é morto, contemplativo. Suas feições transmitem bondade, tolerância e há em seu rosto um “quê” de infantilidade. Seus gestos são lentos, preguiçosos, bem como sua maneira de falar. Tem barba de dois ou três dias e traja-se decentemente, embora sua roupa seja mal talhada e esteja amarrotada e suja de poeira.

Rosa parece pouco ter de comum com ele. É uma bela mulher, embora seus traços sejam um tanto grosseiros, tal como suas maneiras. Ao contrário do marido, tem “sangue quente” (…), revelando, logo à primeira vista, uma insatisfação e uma ânsia recalcada de romper com o ambiente em que se sente sufocar. Veste-se como uma provinciana que vem à cidade, mas também como uma mulher que não deseja ocultar os encantos que possui. Zé-do-Burro vai até o centro da praça e aí pousa a sua cruz, equilibrando-a na base e num dos braços, como um cavalete. Está exausto. Enxuga o suor da testa.

– (Olhando a igreja) É essa. Só pode ser essa. (Rosa para também, junto aos degraus, cansada, enfastiada e deixando já entrever uma revolta que se avoluma.)

ROSA – E agora? Está fechada.

– É cedo ainda. Vamos esperar que abra.

ROSA – Esperar? Aqui?

– Não tem outro jeito.

ROSA – (Olha-o com raiva e vai sentar-se num dos degraus. Tira o sapato.) Estou com cada bolha d’água no pé que dá medo.

– Eu também. (Contorce-se num rito de dor. Despe uma das mangas do paletó.) Acho que os meus ombros estão em carne viva.

ROSA – Bem feito. Você não quis botar almofadinhas, como eu disse.

– (Convicto) Não era direito. Quando eu fiz a promessa, não falei em almofadinhas.

ROSA – Então: se você não falou, podia ter botado; a santa não ia dizer nada.

– Não era direito. Eu prometi trazer a cruz nas costas, como Jesus. E Jesus não usou almofadinhas.  ROSA – Não usou porque não deixaram.

– Não, nesse negócio de milagres, é preciso ser honesto. Se a gente embrulha o santo, perde o crédito. De outra vez o santo olha, consulta lá os seus assentamentos e diz: – Ah, você é o Zé-do-Burro, aquele que já me passou a perna! E agora vem me fazer nova promessa. Pois vá fazer promessa pro diabo que o carregue, seu caloteiro duma figa! E tem mais: santo é como gringo, passou calote num, todos os outros ficam sabendo.

ROSA – Será que você ainda pretende fazer outra promessa depois desta? Já não chega?…

– Sei não… a gente nunca sabe se vai precisar. Por isso, é bom ter sempre as contas em dia. (Ele sobe um ou dois de graus. Examina a fachada da igreja à procura de uma inscrição.)

ROSA – Que é que você está procurando?

– Qualquer coisa escrita… pra a gente saber se essa é mesmo a igreja de Santa Bárbara. ROSA E você já viu igreja com letreiro na porta, homem?

– É que pode não ser essa…

ROSA – Claro que é essa. Não lembra o que o vigário disse? Uma igreja pequena, numa praça, perto duma ladeira…

– (Corre os olhos em volta.) Se a gente pudesse perguntar a alguém…

ROSA – Essa hora está todo o mundo dormindo. (Olha-o quase com raiva.) Todo o mundo… menos eu, que tive a infelicidade de me casar com um pagador de promessas. (Levanta-se e procura convencê-lo.) Escute, Zé… já que a igreja está fechada, a gente podia ir procurar um lugar pra dormir. Você já pensou que beleza agora uma cama?…

– E a cruz?

ROSA – Você deixava a cruz aí e amanhã, de dia…

ZÉ – Podem roubar…

ROSA- Quem é que vai roubar uma cruz, homem de Deus? Pra que serve uma cruz?

ZÉ – Tem tanta maldade no mundo. Era correr um risco muito grande, depois de ter quase cumprido a promessa. E você já pensou; se me roubassem a cruz, eu ia ter que fazer outra e vir de novo com ela nas costas da roça até aqui. Sete léguas.

ROSA – Pra quê? Você explicava à santa que tinha sido roubado, ela não ia fazer questão.

– É o que você pensa. Quando você vai pagar uma conta no armarinho e perde o dinheiro no caminho, o turco perdoa a dívida? Uma ova!

ROSA – Mas você já pagou a sua promessa, já trouxe uma cruz de madeira da roça até à igreja de Santa Bárbara. Está aí a igreja de Santa Bárbara, está aí a cruz. Pronto. Agora, vamos embora.

ZÉ – Mas aqui não é a igreja de Santa Bárbara. A igreja é da porta pra dentro.

ROSA – Oxente! Mas a porta está fechada e a culpa não é sua. Santa Bárbara deve saber disso, que diabo.

ZÉ- (Pensativo) Só se eu falasse com ela e explicasse a situação… Pois então… fale!

– (Ergue os olhos para o céu medrosamente e chega a entreabrir os lábios, como se fosse dirigir-se à santa. Mas perde a coragem.) Não, não posso…

ROSA – Por que, homem?! Santa Bárbara é tão sua amiga… Você não está em dia com ela?

– Estou, mas esse negócio de falar com santo é muito complicado. Santo nunca responde em língua da gente… não se pode saber o que ele pensa. E além do mais isso também não é direito. Eu prometi levar a cruz até dentro da igreja, tenho que levar. Andei sete léguas. Não vou me sujar com a santa por causa de meio metro.

ROSA – E pra você não se sujar com a santa, eu vou ter que dormir no chão, no “hotel do padre”. (Olha-o com raiva e vai deitar-se num dos degraus da escada da igreja.) E se tudo isso ainda fosse por alguma coisa que valesse a pena…

– Você podia não ter vindo. Quando eu fiz a promessa, não falei em você, só na cruz.

ROSA – Agora você diz isso. Dissesse antes…

– Não me lembrei. Você também não reclamou…

ROSA – Sou sua mulher. Tenho que ir pra onde você for…

– Então… Rosa ajeita-se da melhor maneira possível no degrau, enquanto Zé-do-Burro, não menos cansado do que ela, faz um esforço sobre-humano para não adormecer. Cochila, montando guarda à sua cruz.

Disponível em: https://canal.cecierj.edu.br/012016/97a3e760bb65630c2b5c2c8d0c7d4e2d.pdf Acesso em 1º de nov. de 2022.

ATIVIDADES

  1. Observe como as relações de causa e consequência expressam-se no texto lido. Depois, faça a correspondência entre os trechos.
CausaConsequência
( 1 ) Zé-do-Burro não usou almofadas para apoiar a cruz.(  ) Rosa vai dormir nas escadas da igreja.
( 2 ) Zé-do-Burro é honesto quando se trata de cumprir promessas.(  ) Alguém pode tentar roubar a cruz.
( 3 ) A igreja está fechada.(  ) Rosa tem que seguir Zé- do-Burro.
( 4 ) Rosa é mulher de Zé-do-Burro.(  ) Zé-do-Burro tem crédito com os santos.
( 5 ) Há muita maldade no mundo.(  ) Zé-do-Burro ficou com os ombros em carne viva.

Disponível em: https://canal.cecierj.edu.br/012016/97a3e760bb65630c2b5c2c8d0c7d4e2d.pdf Acesso em 1º de nov. de 2022.

2. Em O Pagador de promessas, apresentam-se dois protagonistas centrais, Zé-do-Burro e sua esposa Rosa. O texto apresenta características físicas e psicológicas marcantes desses dois personagens, que tornam a saga muito interessante. Cite-as:

3. Leia atentamente a peça O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, e relacione os fatos às assertivas abaixo.

I – Promessa feita à Santa Bárbara.(  ) Padre Olavo
II – Atravessa o sertão carregando uma cruz de madeira.(  ) Zé-do-Burro.
III – Acusa Zé do Burro de heresia.(  ) Rosa.
IV – Apela ao esposo para retornarem imediatamente para casa.(  ) Levar a cruz até o altar da santa.

4. Por que Padre Amaro acusa Zé-do-Burro de heresia?

5. Em que se dá o conflito, nesse trecho da peça?

Leia outro texto teatralO Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna:

O Auto da Compadecida

Ariano Suassuna/Adaptação: Renata Kamla

Chicó e João Grilo estão na frente da igreja de padre João, querem convencê-lo a benzer o cachorro de sua patroa, a mulher do padeiro.

CHICÓ – Padre João!

JOÃO GRILO – Padre João! Padre João!

PADRE – (aparecendo na frente da igreja) Que há? Que gritaria é essa?

CHICÓ – Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa aqui trazer um cachorro para o senhor benzer.

PADRE – Para eu benzer?

CHICÓ – Sim

Disponível em: https://i.ytimg.com/vi/co-beKH1aZ0/maxresdefault.jpg Acesso 13 de out. de 2021.

PADRE – (Com desprezo) Um cachorro?

CHICÓ – Sim

PADRE – Que maluquice! Que besteira!

JOÃO GRILO – Cansei de dizer a ele que o senhor não benzia.

PADRE – Não benzo de jeito nenhum.

CHICÓ – Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho.

JOÃO GRILO – No dia em que chegou o motor novo do major Antônio Morais o senhor não benzeu?

PADRE – Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.

CHICÓ – Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.

PADRE – É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro. Benzer motor é fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?

JOÃO GRILO – É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele e uma coisa é benzer o motor do major Antônio Morais e outra é benzer o cachorro do major Antônio Morais.

PADRE – Como?

JOÃO GRILO – Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do major Antônio Morais.

PADRE – E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio Morais?

JOÃO GRILO – É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse.

PADRE – (desfazendo-se em risos) Zangar nada, João! Falei por falar, mas também vocês não tinham dito de quem era o cachorro!

JOÃO GRILO – Quer dizer que benze, não é?

PADRE – Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus.

JOÃO GRILO – Então fica tudo na paz do Senhor, com cachorro benzido e todo mundo fica satisfeito.

PADRE – Digam ao major que venha. Eu estou esperando. (Entra na igreja).

 Disponível em: https://brainly.com.br/tarefa/28995045 Acesso em 05 de nov. de 2021.

Você pode ler o texto na íntegra:

https://aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/366701/mod_resource/content/1/Auto%20da%20Compadecida%20-%20Ariano%20Suassuna.pdf

Observe que os textos teatrais são produzidos para serem representados e não contados, por isso, geralmente, não existe um narrador, fator que o difere dos textos narrativos.

Características do texto teatral:

  • Textos encenados
  • Gênero narrativo
  • Diálogo entre personagens
  • Discurso direto
  • Atores, plateia e palco
  • Cenário, figurino e sonoplastia
  • Linguagem corporal e gestual
  • Ausência de narrador

A linguagem teatral é expressiva, dinâmica, dialógica (em forma de diálogo), corporal e gestual. Para prender a atenção do espectador os textos teatrais sempre apresentam um conflito, ou seja, um momento de tensão que será resolvido no decorrer dos fatos.

Observe que em grande parte a linguagem teatral é dialógica, no entanto, quando encenada por somente um personagem é chamado de monólogo, donde expressa pensamentos e sentimentos da pessoa que está atuando.

Disponível em: https://www.todamateria.com.br/texto-teatral/ Acesso em 29 de out. de 2021.

Lendo e analisando um texto teatral

6. O texto teatral se assemelha ao texto narrativo, ambos apresentam fatos vividos por determinados personagens em determinado lugar e tempo.

a) Quem são os personagens desse texto?

b) Qual é o problema apresentado no texto, ou seja, o conflito?

c) Em que local possivelmente ocorreram os fatos? Cite um trecho do texto que comprove a sua resposta. 

7. Observe o trecho a seguir e responda às atividades:

PADRE – (aparecendo na frente da igreja) Que há? Que gritaria é essa?

CHICÓ – Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa aqui trazer um cachorro para o senhor benzer.

PADRE – Para eu benzer?

CHICÓ – Sim.

PADRE – (Com desprezo) Um cachorro?

a) Nas falas do padre, há uns textos entre parênteses que fazem parte da estrutura/organização do texto teatral, estes são as rubricas. Qual é a função das rubricas?

b) Os diálogos das personagens nesse trecho ocorrem por meio de discurso direto ou indireto? Que elementos comprovam a sua resposta?

8. Essa peça teatral demonstra claramente uma relação de poder, pois o padre de início se recusa a benzer o cachorro, mas posteriormente concordou em fazê-lo. O que o convenceu a atender o pedido e benzer o cachorro foi

A) a gritaria na porta da igreja.

B) saber que o cachorro era da mulher do padeiro.

C) fato de já ter benzido o motor do major Antônio Morais.

D) pensar que o cachorro era do major Antônio Morais.

9. Identifique a que gênero textual pertence a peça teatral O Auto da Compadecida, analisada.

A) Gênero digital.

B) Gênero textual do tipo argumentativo.

C) Gênero textual do tipo injuntivo.

D) Gênero textual dramático.

10. Qual é a finalidade do texto dramático (teatral)?

11. O tema que mais se adequa ao trecho da peça lida é:

A) O carisma do padre.

B) A decisão do padre.

C) A ética do padre.

D) A ambição do padre.

12. “JOÃO GRILO – É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse.

PADRE – (desfazendo-se em risos) Zangar nada, João! Falei por falar, mas também vocês não tinham dito de quem era o cachorro!”

No trecho acima, as palavras destacadas e escritas entre parêntese é uma rubrica, que foi usada para identificar:

A) o comportamento do padre.

B) a fala da personagem.

C) a emoção da personagem.

D) a postura física de João grilo.

13.Sobre o texto teatral, todas as alternativas estão corretas, exceto:

A) O texto teatral apresenta enredo, personagens, tempo, espaço e pode estar dividido em “Atos”.

B) O texto teatral é semelhante ao narrativo, apresentando algumas diferenças como por exemplo a encenação.

C) O texto teatral é um gênero jornalístico em que se defende um ponto de vista.

C) O texto teatral apresenta diálogo entre as personagens e algumas observações no corpo do texto, como exemplo, para identificar as rubricas.

14. O que dá início ao enredo nessa história é quando

A) Chicó e João Grilo pedem ao padre para benzerem o cachorro.

B) Chicó e João dizem que cachorro é mais importante que motor.

C) o padre benze o motor do major Antônio Morais.

D) o padre se recusa a benzer o cachorro da esposa do padeiro.

Observe o trecho do texto teatral O Auto da Compadecida:

PADRE – Para eu benzer?

CHICÓ – Sim.

PADRE – (Com desprezo) Um cachorro?

Agora observe, se o padre dissesse:

“Para mim benzer?”

 Ficaria (errado)

As colocações “para eu” e “para mim”, as duas existem na língua portuguesa, mas o emprego depende da situação de uso.

Veja nos exemplos: Para eu ler (ver/ assistir/ buscar)

É muito comum ouvirmos construções como “Empresta o livro para mim ler” ou “Trouxe um sanduíche para mim comer depois”, entre outras. Tais sentenças estão, segundo a norma culta, gramaticalmente incorretas e devem ser evitadas. As frases deveriam ser escritas da seguinte forma: “Empresta o livro para eu ler” e “Trouxe um sanduíche para eu comer depois”.

Nessas situações, o pronome pessoal eu tem a função de sujeito do verbo no infinitivo. Ela só pode ser exercida pelos pronomes pessoais retos, nunca pelos oblíquos, como é o caso do pronome mim.

Errado: Há vários exercícios para mim fazer.

Correto: Há vários exercícios para eu fazer.

Ex.: Para mim estudar é uma alegria.

Nada de errado nessa construção. Nesse caso, o pronome oblíquo mim não é sujeito de estudar. Observe que houve apenas uma inversão da ordem natural da frase. Em ordem direta teríamos: Estudar é uma alegria para mim, em que “para mim” funciona como complemento de estudar.

Para deixar clara a função de complemento de “para mim”, recomenda-se separá-lo do verbo por uma vírgula.

Exemplo: Para mim, estudar é uma alegria.

Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/duvidas-portugues/para-mim-ou-para-eu/ Acesso em: 9 nov. 2021.

Vale lembrar que o “mim” não conjuga verbo, somente o “eu”. Portanto, nunca devemos usar: “para mim fazer”; “mim começa”; “mim gosta”, etc. O correto é: “para eu fazer”; “eu começo”; “eu gosto”.

Exemplo:

  • Nossa relação está muito pesada para mim.
  • Tudo no trabalho sobra para eu fazer.

Disponível em: https://www.todamateria.com.br/eu-e-mim/Acesso em: 9 nov. 2021

15. Complete as lacunas com “eu” ou “mim”:

I. Eles partiram antes de _____.

II. Eles partiram antes de _____ partir.

III. Há alguma coisa para _____ fazer?

IV. Para _____, a seleção brasileira é a favorita.

V. Preciso de férias para _____ viajar.

A) mim – eu – eu – mim – eu.

B) mim – eu – mim – mim – mim.

C) eu – mim – eu – mim – mim.

D) mim – mim – mim – eu – eu. 

Disponível em: encurtador.com.br/cBCZ6 Acesso em 9 de nov. de 2021.

PRODUÇÃO TEXTUAL

Leia as duas peças teatrais na íntegra e escolha uma das cenas para representar. Forme grupos com seus colegas para realizar essa atividade. Se preferir, encene as cenas analisadas.

Planeje seu texto, considere as características e o objetivo do gênero dramático. Esse é um texto cômico, portanto deve ficar engraçado, provocar risos, divertir o público. Considere também o cenário, o figurino, quem representará cada personagem, as falas de cada um, a postura, a interpretação, o tom de voz e bom trabalho!