AULA 8/2023 – Gênero: Peças teatrais e Figuras da Linguagem - 10/05/2023

O texto teatral

Os textos teatrais ou dramáticos são aqueles produzidos para serem representados (encenados) e podem ser escritos em poesia ou prosa.

São, portanto, peças de teatro escritas por dramaturgos e dirigidos por produtores teatrais e, em sua maioria, são pertencentes ao gênero narrativo.

Ou seja, o texto teatral apresenta enredo, personagens, tempo, espaço e pode estar dividido em “Atos”, que representam os diversos momentos da ação. Esses atos, assim, podem marcar a mudança de cenário e/ou de personagens, além de poder simbolizar que se passaram horas, dias, meses ou até anos!

De tal modo, o texto teatral possui características peculiares e se distancia de outros tipos de texto pela principal função que lhe é atribuída: a encenação.

Dessa forma, o texto da peça teatral apresenta diálogo entre as personagens e algumas observações no corpo do texto, tal qual o espaço, cena, ato, personagens, rubricas (de interpretação, de movimento etc.).

Já que os textos teatrais são produzidos para serem representados e não contados, geralmente não existe um narrador, fator que o difere dos textos narrativos.

A linguagem teatral é expressiva, dinâmica, dialógica, corporal e gestual. Para prender a atenção do espectador esses textos sempre apresentam um conflito, ou seja, um momento de tensão que pode ou não ser resolvido no decorrer dos fatos.

Os principais elementos que constituem os textos teatrais são:

Tempo: o tempo teatral é classificado em “tempo real” (que indica o da representação), “tempo dramático” (quando acontece os fatos narrados) e o “tempo da escrita” (indica quando foi produzida a obra).

Espaço: o chamado “espaço cênico” determina o local em que será apresentada a história. Já o “espaço dramático” corresponde ao local em que serão desenvolvidas as ações das personagens.

Personagens: segundo a importância, as personagens dos textos teatrais são classificadas em: personagens principais (protagonistas), personagens secundários e figurantes.

Os textos teatrais são constituídos por dois textos:

  • Texto Principal: que apresenta a fala das personagens (monólogo, diálogo, apartes).
  • Texto Secundário: que inclui o cenário, figurino e rubricas.

Disponível em: https://www.todamateria.com.br/texto-teatral/. Acesso em: 09 de abr. 2022.

Você gosta de ser criativo? Por vezes, para sermos criativos ao usar a língua, construímos novas possibilidades de expressão. Ao dizermos, por exemplo, “Caio é forte como um leão!”, sabemos que Caio é um ser humano, mas, para enfatizarmos que ele é realmente muito, muito forte, o comparamos ao rei dos animais. Assim, existem situações que atribuímos às palavras outros significados, diferentes daqueles que estão no dicionário. Esses novos sentidos que atribuímos às palavras possuem uma função de estilo, recurso conhecido como figuras de linguagem.

Disponível em: https://brainly.com.br/tarefa/31502442 Acesso em: 09 de abr. 2022.

Agora, vamos fazer exercícios sobre o texto teatral e as figuras de linguagem!

Disponível em: https://www.amazon.com.br/Auto-Compadecida-Duplo-Matheus-Nachtergaele/dp/B003UMSVDS Acesso em 09 de abril de 2022.

O texto a seguir é um fragmento da mais famosa peça de Ariano Suassuna, Auto da Compadecida, contendo um fundo popular e religioso.

JOÃO GRILO – Parem, parem! Acabem com essa molecagem!

Seu grito é tão grande que todos param e o silêncio se faz.

JOÃO GRILO – Acabem com essa molecagem. Diabo dum barulho danado! É assim, é? É assim, é?

ENCOURADO – Assim como?

JOÃO GRILO – É assim de vez? É só dizer “pra dentro” e vai tudo? Que diabo de tribunal é esse que não tem apelação?

ENCOURADO – É assim mesmo e não tem para onde fugir!

JOÃO GRILO – Sai daí, pai da mentira! Sempre ouvi dizer que para se condenar uma pessoa ela tem de ser ouvida!

BISPO – Eu também. Boa, João Grilo!

PADRE – Boa, João Grilo!

MULHER – Boa, João Grilo!

PADEIRO – Você achou boa?

MULHER – Achei.

PADEIRO – Então eu também achei. Boa, João Grilo!

SEVERINO – É isso mesmo e eu vou apelar para Nosso Senhor Jesus Cristo, que é quem pode saber.

ENCOURADO – Besteira, maluquice!

PADRE – Besteira ou maluquice, eu também apelo. Senhor Jesus, certo ou errado, eu sou um padre e tenho meus direitos. Quero ser julgado, antes de ser entregue ao diabo.

Aqui começam a soar pancadas de sino, no mesmo ritmo das de tambor anteriores. O Encourado começa a ficar agitado.

JOÃO GRILO – Ah! pancadinhas benditas! Oi, está tremendo? Que vergonha, tão corajoso antes, tão covarde agora! Que agitação é essa?

ENCOURADO – Quem está agitado? É somente uma questão de inimizade. Tenho o direito de me sentir mal com aquilo que me desagrada.

JOÃO GRILO – Eu, pelo contrário, estou me sentindo muito bem. Sinto-me como se minha alma quisesse cantar.

BISPO, estranhamente emocionado. – Eu também. É estranho, nunca tinha experimentado um sentimento como esse. Mas é uma vontade esquisita, pois não sei bem se ela é de cantar ou de chorar.

Esconde o rosto entre as mãos. As pancadas do sino continuam e toca uma música de aleluia. De repente, João ajoelha-se, como que levado por uma força irresistível e fica com os olhos fixos fora. Todos vão-se ajoelhando vagarosamente. O Encourado volta rapidamente as costas, para não ver o Cristo que vem entrando. É um preto retinto, com uma bondade simples e digna nos gestos e nos modos. A cena ganha uma intensa suavidade de Iluminura. Todos estão de joelhos, com o rosto entre as mãos.

ENCOURADOde costas, grande grito, com o braço ocultando os olhos – Quem é? É Manuel?

MANUEL – Sim, é Manuel, o Leão de Judá, o Filho de Davi. Levantem-se todos, pois vão ser julgados.
JOÃO GRILO – Apesar de ser um sertanejo pobre e amarelo, sinto perfeitamente que estou diante de uma grande figura. Não quero faltar com o respeito a uma pessoa tão importante, mas se não me engano aquele sujeito acaba de chamar o senhor de Manuel.

MANUEL – Foi isso mesmo, João. Esse é um de meus nomes, mas você pode me chamar também de Jesus, de Senhor, de Deus… Ele gosta de me chamar Manuel ou Emanuel, porque pensa que assim pode se persuadir de que sou somente homem. Mas você, se quiser, pode me chamar de Jesus.

JOÃO GRILO – Jesus?

MANUEL – Sim.

JOÃO GRILO – Mas, espere, o senhor é que é Jesus?

MANUEL – Sou.

JOÃO GRILO – Aquele Jesus a quem chamavam Cristo?

JESUS – A quem chamavam, não, que era Cristo. Sou, por quê?

JOÃO GRILO – Porque… não é lhe faltando com o respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado.

BISPO – Cale-se, atrevido.

MANUEL – Cale-se você. Com que autoridade está repreendendo os outros? Você foi um bispo indigno de minha Igreja, mundano, autoritário, soberbo. Seu tempo já passou. Muita oportunidade teve de exercer sua autoridade, santificando-se através dela. Sua obrigação era ser humilde porque quanto mais alta é a função, mais generosidade e virtude requer. Que direito tem você de repreender João porque falou comigo com certa intimidade? João foi um pobre em vida e provou sua sinceridade exibindo seu pensamento. Você estava mais espantado do que ele e escondeu essa admiração por prudência mundana. O tempo da mentira já passou.

JOÃO GRILO – Muito bem. Falou pouco, mas falou bonito. A cor pode não ser das melhores, mas o senhor fala bem que faz gosto.

MANUEL – Muito obrigado, João, mas agora é sua vez. Você é cheio de preconceitos de raça. Vim hoje assim de propósito, porque sabia que isso ia despertar comentários. Que vergonha! Eu Jesus, nasci branco e quis nascer judeu, como podia ter nascido preto. Para mim, tanto faz um branco como um preto. Você pensa que eu sou americano para ter preconceito de raça?

PADRE – Eu, por mim, nunca soube o que era preconceito de raça.

ENCOURADO, sempre de costas para Manuel – É mentira. Só batizava os meninos pretos depois dos brancos.

PADRE – Mentira! Eu muitas vezes batizei os pretos na frente.

ENCOURADO – Muitas vezes, não, poucas vezes, e mesmo essas poucas quando os pretos eram ricos.

PADRE – Prova de que eu não me importava com cor, de que o que me interessava…

MANUEL – Era a posição social e o dinheiro, não é, Padre João? Mas deixemos isso, sua vez há de chegar. Pela ordem, cabe a vez ao bispo. (Ao Encourado.) Deixe de preconceitos e fique de frente.

ENCOURADOsombrio – Aqui estou bem.

MANUEL – Como queira. Faça seu relatório

JOÃO GRILO – Foi gente que eu nunca suportei: promotor, sacristão, cachorro e soldado de polícia. Esse aí é uma mistura disso tudo.

MANUEL – Silêncio, João, não perturbe. (Ao Encourado.) Faça a acusação do bispo. (Aqui […] o Demônio traz um grande livro que o Encourado vai lendo.)”

Disponível em: http://diogoprofessor.blogspot.com/. Acesso em: 10 de abr. 2022.

ATIVIDADES

1. O texto teatral é um tipo de narração: apresenta fatos vividos por personagens em determinado tempo e lugar.

a) Qual é o fato principal desse texto?

b) Onde possivelmente ocorrem os fatos? Como você chegou a essa resposta?

c) Qual é, aproximadamente, o tempo de duração dessa cena?

2. Há, no texto teatral, alguns trechos em que a letra está em itálico, por exemplo:

“BISPO, estranhamente emocionado

“ENCOURADO, sempre de costas para Manuel

Qual é a função desses trechos?

3. O texto teatral é escrito para ser representado. Nessa cena, a variedade linguística predominante

(A)  é apresentada como se fosse um discurso para muitas pessoas.  

(B) apresenta algumas palavras regionais e populares – e até ditados.

(C) mostra informações polêmicas, afinal, a maioria de nós não acredita na religião ali apresentada.

(D) histórica com palavras que deixaram de ser usados, em um claro arcaísmo.

4. Quando se lê um texto teatral, o leitor é o interlocutor do drama vivido pelas personagens. E quando a peça é encenada? Quem é o interlocutor?

5. O trecho destacado, a seguir, representa qual figura de linguagem?  Explique a intenção da personagem ao usar essa expressão.

Para mim, tanto faz um branco como um preto.”

6. Leia a seguinte fala de João Grilo: “Muito bem. Falou pouco, mas falou bonito. A cor pode não ser das melhores, mas o senhor fala bem que faz gosto”. Percebe-se um sentido contrário e diferente. Qual é a figura de linguagem que representa essa fala?

(A) Eufemismo (suavizar a mensagem).

(B) Personificação/prosopopeia (atribuição de vida a seres inanimados).

(C) Ironia (representa justamente o sentido contrário).

(D) Metáfora (é uma representação não literal/sentido figurado).

7. Veja um trecho de uma canção famosa no rock nacional, de Frejat:

Por você eu dançaria tango no teto
Eu limparia os trilhos do metrô
Eu iria a pé do Rio a Salvador

Eu aceitaria a vida como ela é
Viajaria a prazo pro inferno
Eu tomaria banho gelado no inverno

                           Disponível em: https://www.letras.mus.br/barao-vermelho/44432/ Acesso em: 10 de abr. 2022.

É possível observar a seguinte figura de linguagem no fragmento da música de Frejat:

(A) Metonímia.

(B) Ironia.              

(C) Antítese.          

(D) Hipérbole.

8. Leia a tirinha abaixo e responda ao que se pede:

Disponível em: https://tirasdidaticas.files.wordpress.com/2020/01/2020_tiras_didaticas_custodio.pdf Acesso em: 10 de abr. 2022.
 

Na tirinha acima, o humor é construído pelo uso da figura da linguagem denominada hipérbole. Com o uso dessa ideia de exagero, o quadrinista cria 

(A) uma personagem má que só aparece no penúltimo quadrinho.

(B) uma personagem fraca que se torna forte, após tomar algum tônico, isso visto no último quadrinho.

(C) uma personagem que se sentia belo acima do normal, por isso a letra H de hipérbole na roupa dela, no último quadrinho.

(D) uma personagem que se sente desajeitado e quer ser vista por todos como belo.

9. Além do uso da figura da linguagem hipérbole, o quadrinista busca atribuir aos animais da tirinha ações e características humanas. Qual figura da linguagem é utilizada?

(A) Metonímia.

(B) Ironia.              

(C) Personificação.

(D) Hipérbole.

10. Transforme as frases abaixo, que foram escritas usando figuras de linguagem, para uma linguagem sem esses efeitos estilísticos. Como no exemplo:

Lá em casa o clima é de fim de feira: estamos vendendo todos os móveis, pois vamos mudar de cidade.

Lá em casa estamos desfazendo o ambiente: estamos vendendo os móveis.

a) Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

b) Se eu tirar nota baixa, minha mãe vai ficar uma arara!

c) Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

Vamos produzir um texto de teatro?

A peça teatral é composta por dois tipos de texto:

Texto principal – contém as falas dos atores, que podem ser escritas através de:

Monólogo – a personagem fala consigo mesmo, expondo, perante o público, os seus pensamentos e/ou sentimentos (precedido sempre de travessão);

Diálogo – falas entre duas ou mais personagens (precedido sempre de travessão);

Apartes – comentários de uma personagem para o público, pressupondo que não são ouvidos pelo seu interlocutor.

Texto secundário (Indicações cênicas) – Destina-se ao leitor, ao encenador ou aos atores. Está presente, por exemplo, nas rubricas.

Continue a história de João Grilo, imaginando que Manuel é convencido pelas acusações de Encourado e decide pela condenação de todos: do Padre, do Bispo, do Padeiro e de sua Esposa, do João Grilo. O que aconteceria? Eles pediriam ajuda para alguém? Como a história se resolveria?

Use sua imaginação!